A nova casa de Giorgio Marchese, fundador do coletivo Punto Zero, que supervisionou o projeto, e de Gianluca Panetti, presta homenagem às cores e aos materiais da cidade e insere-se num belo edifício do início do século XX.
Fotografia: Serena Eller Vainicher / segundo a memória descritiva
O apartamento de 115m2, integrado num edifício no coração de Colle Oppio, uma das famosas colinas de Roma, é a nova casa de Giorgio Marchese, o fundador do atelier de arquitetura Punto Zero, e do seu companheiro, Gianluca Panetti. A planta linear clássica, com uma sequência de divisões, todas voltadas para o exterior, foi revista e reinterpretada por forma a transformar a espacialidade do apartamento, usando-se, para tal, novos volumes e inserções.
“Ser cliente de si próprio é a operação mais improvável que existe”, conta Giorgio. “É por isso que o projeto amadureceu com o diálogo contínuo com os meus parceiros sentimentais e profissionais, Gianluca e Arianna. Queríamos uma casa que se movesse em torno da luz e foi a procura da visão e da luminosidade que nos fez subverter as funções originais do apartamento.”
“Desejávamos manter os vestígios das suas origens do século XX — caso dos antigos pavimentos de grés com desenhos, dos frescos do teto redescobertos durante as obras, ou das portas originais — e, ao mesmo tempo, queríamos manter a sua alma, através de uma série de escolhas de elementos e cores que realçam a nova linfa contemporânea”, acrescenta Arianna Nobile, co-fundadora do estúdio.
O projeto previa uma intervenção estrutural, por forma a reduzir a entrada e acolher a casa- de-banho principal, criando-se uma “caixa” de resina escura na zona de dormir. Algumas partes desta caixa foram removidas posteriormente, para dar lugar a diafragmas de vidro às riscas que protegem a zona do duche e dão luz à casa-de-banho e à entrada.
Na extremidade do edifício, na esquina, um outro volume contém a casa-de-banho das visitas e separa a cozinha de uma sala de estudo, definida por painéis do chão ao teto. A introdução de painéis gigantes, portas originais e outras, camufladas, permitem jogar, por fim, com a perceção do espaço, ampliando-o visualmente ou tornando-o isolado e íntimo, quando necessário.
A estrela da sala é a mesa de jantar com linhas minimalistas e acabamento alto-brilho desenhada pela Punto Zero. Começou por ser um protótipo e é o primeiro produto de design do estúdio, fazendo hoje parte de uma série de mesas de jantar e de café apresentadas na última edição da EDIT Nápoles. Esta procura por linhas e formas que reúnam uma atitude de design dos anos 70, aliada ao espírito contemporâneo essencial do estúdio, faz parte do ADN da casa.
A escolha dos materiais e das cores foi declinada de diferentes formas: umas vezes como notas de ligação, outras vezes como apontamentos de afastamento da trama de todo o projeto.
“Queríamos uma casa romana contemporânea, com referências às cores e aos materiais da cidade que nos adotou: os vermelhos, a utilização de travertino natural, o amarelo ocre da luz de Roma”.
Nas zonas húmidas, à volta da “caixa” delineada em resina colorida, a escolha recai sobre os materiais tradicionais reinterpretados segundo um olhar contemporâneo. A camada de travertino é trabalhada com lasers de comando numérico, criando uma secção ondulada que remete para o vidro às riscas da casa-de-banho e da entrada; a resina verde-sálvia da casa-de-banho dos hóspedes encontra-se com a parede em tijolos de pedra compactados e tijolo cor-de-rosa montados no estilo romano ‘espinha de peixe’.
As paredes são pontuadas por várias obras de arte de artistas contemporâneos, como Luca Capuano, Ernesta Caviola, Arianna Matta, Umberto Pintore, Yara Bonanni, e por mapas de grandes dimensões — “um deles representa o Município de Roma dos anos 60 e um outro a região de Lácio” —, uma coleção que nasceu do desejo de nos orientarmos, de nos encontrarmos numa cidade que não é nossa, mas que nos adotou e acolheu na sua grandeza, sempre a descobrir. A coleção está a começar”, elucida o arquiteto.
“A Sicília e a Campania, de onde somos originários, são pulsantes em cores, e estas fazem parte das nossas paixões e profissões: arquitetura, moda e cozinha.”
Os pavimentos de resina, por exemplo, funcionam como um elemento de união para os vários tapetes de grão originais, muitas vezes desmontados e remontados em função de necessidades renovadas. A mesma resina, mas com um grão mais material e sombreado, realça as novas intervenções volumétricas da casa, envolvendo todas as paredes e paredes móveis. Na cozinha, a ilha em aço acetinado é combinada com armários de parede em chapa microperfurada semi-brilhante cor de laranja-sangue desenhados pela Punto Zero.