O estúdio de design de interiores Moinard Bétaille assina a renovação sensível e poética do icónico hotel Cala di Volpe (Sardenha), revivendo de modo brilhante a obra monumental do arquiteto francês Jacques Couëlle.
Projeto: Moinard Bétaille / Texto: Isabel Figueiredo / imagens cedidas
Bruno Moinard e Claire Bétaille, experientes na arte de remodelar hotéis de prestígio (Plaza Athénée em Paris, Four Seasons Trinity Square em Londres, Eden em Roma), lançaram o seu olhar singular sobre esta “obra de arte habitável” que precisava de ser repensada e reacendida, respeitando a ação criativa original de Couëlle.
Após quatro anos de trabalho, o mítico hotel Cala di Volpe, na Costa Esmeralda, na Sardenha, recebe os visitantes com mais fulgor do que nunca. O hotspot dos anos 60 e 70, adorado pelo príncipe Karim Aga Khan, foi um ponto de encontro mítico para o jet-set da época – James Bond esteve por lá durante as filmagens de ‘The Spy who Loved Me’. É o símbolo do génio criativo de Jacques Couëlle, o grande arquiteto que inventou as “casas-esculturas”, que parecem enterradas no seu ambiente, mas que são tão refinadas na sua forma. Associando intimamente natureza e luxo simples, o espaço corresponde hoje ao nosso tempo e às suas aspirações.
Os arquitetos quiseram manter intacta a alma do lugar e adoraram adaptar-se ao império de materiais que aqui domina: o gesso esculpido que reserva refúgios de frescura, a madeira pouco civilizada que pontua as estruturas e o efeito visual, o vidro espesso em composições de cores que filtram a luz única da baía, a terracota quente e sedosa sob os pés, os tecidos habilmente reinventados. Os móveis, na sua maioria, foram projetados sob medida e mobilizaram o know-how local.
Do lobby aos quartos e suítes, dos terraços com vista para o mar aos dois restaurantes (Le Grand e o Bee ar), Bruno Moinard e Claire Bétaille devolveram o brilho ao hotel mais extravagante da Sardenha. Revivida pelos ‘arquitetos viajantes’, a experiência Cala di Volpe, simples e refinada, está hoje mais do que nunca pronta a ser redescoberta e recontada.
Projetado e construído no início dos anos 1960 pelo arquiteto francês Jacques Couëlle, este hotel é em si uma obra de arte, quase uma escultura. E porque cada hotel é um teatro, com os seus cenários, as suas personagens, os seus segredos e às vezes as suas intrigas, a equipa abordou o trabalho de Couëlle como uma herança da sua obra. “Herdámos as histórias e devemos permitir que os hotéis continuem a escrevê-las, nunca cortando o fio, mas revivendo-as. Absorvemos os lugares, a maneira como os consumimos, a atmosfera, as histórias que nos contam sobre eles”, refere a propósito Claire Bétaille. “A arquitetura-escultura de que foi porta-estandarte nas décadas de 1960 e 1970 falou à sua época pela incrível modernidade da sua visão ao mesmo tempo em que celebrava a natureza. As suas casas paisagísticas testemunham esse desejo de reinterpretar a natureza para melhor nela se integrar”, prossegue.
Cala di Volpe é a aliança indestrutível da vontade do artista e das exigências da natureza. “O hotel nunca esteve tão em sintonia com as aspirações do momento. Cala di Volpe é harmonia, surpresa, paz: numa palavra, verdadeiro luxo”. No cenário que é Cala di Volpe, as arcadas, ogivas, contrafortes, escadas escondidas, bancos inesperados e disposição irregular dos pisos, tudo acrescenta estrutura e faz sentido. O envelope é intangível, assim como a linha ou a curva. Reexplorar este labirinto, despertar as energias que estavam escondidas, fazer este organismo vivo respirar novamente e reinventar a circulação constam da equação da remodelação. O hotel expandiu-se e colonizou os seus arredores. Foi reunido à vegetação e ao ambiente marinho que o envolve, e ao mesmo tempo à vida de hoje. “Ano após ano, à medida que o trabalho avançava, reunimos o Cala di Volpe num conceito de hotel coerente, falando uma única língua, escrevendo uma única história”.
A SABER
Morada: Costa Esmeralda, Porto Cervo, Itália, 07020
Tel.: +39 0789 976111