Localizado no centro de Lisboa, o apartamento de 75m2 foi pensado à medida para um executivo que viaja muito e queria ter o seu refúgio em Lisboa, não muito distante do rio.
Projeto: Alçado Versátil / Fotografia: José Ferrão / Produção: Amparo Santa-Clara / Texto: Isabel Figueiredo
Ao arquiteto Nuno Pestana, do Atelier Alçado Versátil, coube imaginar um ambiente citadino urbano, com uma base acolhedora e sofisticada, para acolher a coleção de arte do proprietário. O apartamento foi alvo de uma intervenção, consistindo na abertura do hall de entrada e da cozinha para a sala, o que permitiu criar um novo layout das divisões, ampliar os espaços e a entrada de luz, potenciada pela pequena varanda fechada preexistente.
As paredes brancas serviram como base para, em algumas zonas estratégicas, o atelier optar pelo papel de parede em palhinha com textura, da Henriques e Rodrigues, assim como a cor cinza-chumbo, aplicada na parede central da sala, como formas de criar mais dinamismo e ocultar a pequena cozinha.
O lambrim em almofadas de madeira lacada a branco observado na sala é um dos elementos de destaque que abraça toda a decoração. Neste aspeto, o desafio, apesar de grande, revelou-se facilmente transponível graças à relação de confiança entre o proprietário e Nuno Pestana, que já havia assinado outros projetos para este cliente. E para tal, contribui o conhecimento de todas as peças existentes no antigo apartamento, facto que ajudou na elaboração da proposta de design de interiores para a nova casa.
Na sala de estar partilhada com o espaço de refeições e a pequena cozinha sobressaem, ainda, a parede forrada a espelho – zona de jantar – que assegura a sensação de amplitude do espaço, bem como ajuda a destacar o mobiliário em pau santo – originais dinamarqueses dos anos 70 -, adquirido num antiquário no Porto. Tanto o aparador como a mesa de jantar e as cadeiras, estofadas com um tecido com textura, aquecem o ambiente e revestem-no de elegância.
Na parede branca, a obra de grandes dimensões da portuguesa Paula Rego e os cadeirões em madeira dos anos 70 ganham maior destaque. Da mesma forma, o sofá Light Chester em veludo azul, da Volutas, e a coleção de 10 molduras com gravuras da antiguidade clássica assumem-se como peças dominantes nesta sala comum. Aqui e ali, outras peças combinadas revelam-se fundamentais para o resultado final: caso do tapete trazido da Índia, em seda, ou do módulo de canto em madeira reciclada e ferro preto, de estilo industrial, junto à parede em cor cinza-chumbo, que acolhe uma coleção de objetos, livros, pequenas esculturas e peças em madeira que viajaram de Kuala Lumpur até este pequeno “cabinet de curiosités”.
Da mesma forma, toda a iluminação foi estudada para destacar a coleção de peças de arte do proprietário e criar um ambiente sofisticado e acolhedor nas várias divisões.
Na cozinha aberta para a sala, com móveis lacados a branco brilho, o objetivo foi a sua máxima funcionalidade, desenhando-se, para tal, um balcão em madeira de nogueira de modo a fazer a ponte com o mobiliário clássico da zona de refeição.
Os dois bancos altos em pele cinza para pequenas refeições e a decoração, que combina peças de prata, herança de família, com aquelas em tons de vermelho, adquiridas no Japão, estimulam o olhar, e quem sabe o apetite.
Passando ao quarto, o olhar vai para a cabeceira da cama em veludo cinza de grandes dimensões, com desenho do atelier Alçado Versátil, em equilíbrio perfeito com as duas cómodas em madeira exótica de apoio à cama. A iluminação destaca as obras de arte e proporciona um ambiente mais intimista e, para tal, contribuem em boa medida os candeeiros em vidro espelhado e latão adquiridos na Maison & Objet, Paris.
No mesmo espaço, o papel de parede em bambu azul e cinza, que acolhe a coleção de obras de arte na qual se destacam as serigrafias do Mestre Cruzeiro Seixas, sublinha esta escolha intimista. Ao fundo, a poltrona Charles Eames assinala o canto de leitura – um dos requisitos do proprietário. Por seu turno, no espaço adjacente, destinado a salinha de leitura, as duas estantes em madeira lacadas a preto recebem uma coleção de curiosidades compradas durante as várias viagens do proprietário: figuras em madeira do Cambodja, peças em latão da Malásia, artesanato do Brasil ou pequenas figuras em pau santo vindas de África compõem este acervo, além do conjunto de livros de arte, viagens e fotografia, também eles trazidos das muitas viagens empreendidas.
Aqui, os quadros com ilustrações antigas de Lisboa, Bruxelas, Coimbra e Porto têm um valor afetivo e representam as cidades por onde este executivo já passou durante o seu percurso familiar ou profissional.
A utilização de dois espelhos asiáticos em madeira lacados a preto mate, colocados estrategicamente nesta mesma sala, permitem a ampliação do espaço, assim como a distribuição de luz natural que entra na divisão. Outro elemento de destaque aqui é a cadeira de braços Warren Platner, ícone do design da década de 60, além da opção pelas cortinas em voile de linho branco, feitas por medida, da F.O.C.P., que estão presentes em todas as divisões, e ajudam na harmonia geral da casa.