Imagine-se um apartamento de grandes dimensões, um trabalho de arquitetura de interiores e de decoração que fazem uma leitura perfeita sobre uma das vistas mais incríveis de Lisboa e o espólio de uma família. Tudo combinado, para um resultado feliz.
Fotografia: Carlos Vasconcelos e Sá / Texto: Isabel Figueiredo
Localizado no centro de Lisboa, com uma vista de quase 360º sobre a cidade, este apartamento, com intervenção do atelier Arquitectamus, de Mário Prazeres, aloja um casal de empresários que quis privilegiar as zonas sociais e a suíte principal.
Inteiramente remodelado, o apartamento, que já ocupava as frações direita e esquerda, nunca tinha sido alvo de obras e encontrava-se num elevado estado de degradação. “As divisões, várias e pequenas, eram, além do mais, escuras, com muita área desperdiçada em corredores, na cozinha e nas zonas técnicas, igualmente muito velhas e degradadas, sem cumprir a sua principal função”, revela-nos Mário.
O atelier propôs, assim, a total reestruturação dos espaços com um plano de arquitetura de interiores inteiramente diferente: a zona social foi remetida para um lado e a zona de quartos para o outro, ligadas pelo hall de entrada, espaço este que foi mudado do lado direito para o esquerdo, e que agora dá acesso às duas zonas distintas e ao lavabo social, também ele novo. “A nossa proposta foi criar interiores com características mais atuais, portas que vão até ao teto, que unem as várias divisões sem interrupções”.
Toda a zona social, cozinha e lavandaria receberam um pavimento em mármore branco de Extremoz, prolongando-se para os terraços, sem transição definida, o que prolonga visualmente o espaço. As paredes e teto brancos, o facto de todas as janelas, que rasgam as paredes, estarem viradas para os terraços, a opção por caixilharias minimalistas, de modo a não quebrar a sensação de prolongamento do espaço interior para o exterior, substituindo as anteriores paredes e janelas, são boa parte dos atributos desta casa, modernizada e aberta ao exterior e a toda aquela paisagem de azul.
“As salas, agora tornadas maiores e organizadas de forma diferente para acomodar a zona da TV ou para se usufruir da magnífica vista sobre Lisboa, a existência desta grande ‘parede’ de vidro da primeira sala, a ‘sala da vista’, como é designada” asseguram ao apartamento uma atmosfera contemporânea, um ‘luxo’ muito especial, que é aquele que apenas encontramos no privilégio de habitar uma casa cheia de luz natural e generosa em área.
Da mesma forma, e passando à zona íntima, todos os quartos dão para o terraço e todos gozam da mesma vista, incluindo a suíte dos hóspedes – com a única casa-de-banho que não teve o seu lugar alterado, nem foi aumentada, mas que reúne o essencial para receber amigos, e “muito confortavelmente”. O espaço de dormir destinado aos netos, por seu turno, recebeu uma nova casa-de-banho, alojada do outro lado do hall dos quartos, e é, de todos, o mais colorido. “A suíte principal, com área bastante generosa, está, como aliás o resto da casa, virada para o terraço e para a vista, agora virada a sul. Na casa-de-banho deste quarto, todas as zonas são separadas com paredes de vidro, e está equipada com um grande duche e banheira, sanitários e lavatórios, estes últimos colocados contra a grande janela e também eles têm direito à fantástica vista sobre Lisboa e o rio.
Nas zonas sociais, compostas por sala de TV, sala com vista, sala de jantar integrada na de estar, os dois grandes terraços, um na zona dos quartos e outro nas zonas das salas, e um último na área da cozinha, com horta vertical de temperos e arrumos, resumem, grosso modo, o cartão de visita do trabalho operado pelo atelier. Assim, em jeito de aperitivo, este trabalho de arquitetura de interiores, abre o apetite – ou melhor, a nossa atenção – para o trabalho de decoração a que se junta, porque é indissociável.
A este nível, foram escolhidos um pavimento radiante – que, nas zonas sociais, técnicas e terraços é de mármore de Estremoz branco, e nos quartos é tábua corrida -, portas interiores do chão ao teto, de abrir ou de correr, caso das usadas na sala, pedra branca com lavatório desenhado pelo atelier no lavabo social, parede de destaque forrada com pastilha muito irregular em madre-pérola dourada e torneira suspensa do teto; pedra branca e pastilha de madre-pérola branca, bem como bancada e espelhos desenhados pelo atelier, tudo branco, na suíte e, de novo, pedra branca com pormenores em madeira na cozinha, a que se soma a mesa desenhada pelo atelier para equipar o mesmo espaço.
Ao nível do mobiliário, a proposta era integrar “todo o mobiliário clássico que existia, sobretudo francês, no novo espaço e fazê-lo ganhar nova vida, e protagonismo, em conjunto com as peças de design, que teriam mais a ver com a filosofia de um espaço mais contemporâneo”. Assim, as peças Boulle ou Luís XV, o tremo de talha dourada português do século XVIII, dialogam com harmonia com os sofás da Flexform, o cadeirão Papilio da B&B Italia, o cadeirão da Vibia junto à televisão ou o móvel e prateleiras de vidro da Rimadesio. “Entre outras peças, os quadros pertencentes ao casal também abrangem um grande período de tempo, e vão dos clássicos a outros datados do século XX, tudo em estreita harmonia”.
Na ‘sala da vista’ foi desenhada uma estante para colocar as peças da Companhia das Índias, que anteriormente estavam dispersas por toda a casa. Foi também desenhada a mesa de centro em aço polido para integrar as duas peças de talha do século XVIII. Na sala de jantar foi desenhada a consola em tons de laranja, lacada a mate e brilhante.
“A solução de arquitetura de interiores foi redesenhar todo o apartamento em função da vista extraordinária e conseguir reorganizar as funcionalidades do apartamento de uma forma atual/ contemporânea, como pedido pelos clientes”. E a esta solução, junta-se a vista soberba sobre Lisboa, que, do lado principal vai do Castelo de São Jorge, às Amoreiras, passando pelo Tejo, a Basílica, a ponte sobre o Tejo, o Cristo Rei, o casario, toda a outra margem, incluindo a Serra da Arrábida em dias de sol. Como não viver aqui feliz?