Por a 18 Abril 2023

E do mundo da cerâmica só amores guardei. Parafraseando, e adulterando  – perdoe-nos o maravilho Rubem Fonseca – um dos grandes autores da literatura brasileira, do mundo da cerâmica guardamos apenas amores.

Texto: Isabel Figueiredo

Aramy Machry nasceu em “dia de festa, a 31 de outubro de 1960, no Cerro Largo, ao sul do Brasil”, para gáudio da sua família, como o próprio nos conta num encontro especial em Lisboa. Com uma passagem pelo curso de Arquitetura e Urbanismo – formação inacabada por razões que aqui não importa revelar, mas que o artista hoje agradece -, Aramy Machri começou a sua incursão pelo mundo das várias disciplinas artísticas sempre conduzido e instigado por uma enorme curiosidade e pelo talento que com ele cresceu. “Comecei por fazer formação em muitas áreas como autodidata ou experimentando alguns workshops de artistas, fiz Fotografia, trabalhei para e com vários fotógrafos, colaborei com revistas…, no fundo, a minha vida permitia-me aproveitar o tempo livre para visitar bibliotecas e museus, para explorar…”, revela-nos.

“Tive o privilégio de, naquela altura, usufruir de uma cidade, Paris, onde era possível este convívio com os artistas e destes encontros nasceu, um dia, a ideia, entre três amigos – que tinham conseguido o endereço da casa do escritor de teatro Samuel Beckett -, de conhecê-lo. Juntos, fomos até sua casa, na esperança de encontrá-lo e de conversar com ele, mas ao longo desse dia Beckett nunca apareceu, e acabámos por regressar a casa, à espera de outras oportunidades. O destino assim o quis.”

A paixão pela cerâmica – mas também o interesse pela escultura -, nasce durante os seus estudos de Arquitetura e Urbanismo, com as cadeiras de História da Arte e Arqueologia. O primeiro passo nos estudos de cerâmica durou apenas três meses, em Porto Alegre, no atelier daquela capital brasileira. Depois disso, a vida de Aramy tomou outro rumo e trouxe-o até à Europa.  

“Dominar uma Arte e uma ‘excelência’, que tantos esforços exige a tantos artistas, pode demorar toda uma vida, e nem sempre é garantido que este esforço seja compensado da forma como se desejaria”, diz-nos. “A inspiração tem de ser diária para cada artista, e vem de uma disciplina, de desejos, de ambições, dentro do contexto da Ordem das Artes, do engajamento, do ativo, politicamente ou não (e isso depende de cada um, naturalmente), das comunidades em que atuam”.

Aramy reside hoje em Lisboa, cidade que o acolheu quando, ao lado da sua companheira, “uma colombiana muito internacional”, procurava um lugar para viverem. “Foi uma decisão gradual, porque Lisboa tem muitas qualidades e os requisitos que nos havíamos imposto”. E é nesta cidade que o artista de olhos claros, que parecem rir e tocar-nos a alma, se dedica à sua arte, a cerâmica, sob a forma de peças com contornos, detalhes, cores e significados que bem podem revelar um pouco da sua vida cheia. Se assim quisermos…

Das peças expostas na grande sala de um edifício histórico de Lisboa, ainda no final do ano passado, a 2022 vai um curto passo. Pela frente, existem alguns convites para expor com outros artistas e alguns pedidos específicos de colecionadores e artistas.

A família, as viagens, as relações que foram sendo desenvolvidas e nutridas, nos diferentes meios, sociais e privados, com gente de diversas idades e ideias, onde a criatividade pelo bem de todos foi e é predominante, resumem, assim, o trabalho de Aramy. Desafiar ou render-se é o seu lema. Nós rendemo-nos, desta vez!

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