Por a 14 Março 2023

O gabinete Memola Estudio e o arquiteto Vitor Penha assinam o projeto de remodelação deste apartamento para um casal que pretendia o casamento perfeito entre o novo e o antigo, o rústico e o industrial. Missão cumprida.

Projeto: Memola Estudio / Fotografia: Fran Parente / segundo a memória descritiva

Apesar do contacto à distância com o casal de clientes, que morava em Buenos Aires à data do início do projeto, a relação entre os arquitetos foi sempre de completa proximidade. “Os clientes conheciam o nosso trabalho e selecionaram algumas referências dos nossos projetos para exprimirem as suas expectativas para a nova casa”, referem.

Por um lado, a reforma deste apartamento de 167m² deveria refletir o estilo de vida cosmopolita do casal. Por outro, estava implícito o convite ao atelier para aplicarem os seus princípios criativos, “de convívio do novo com o antigo, do rústico ou industrial com objetos ou sistemas que imprimem delicadeza aos ambientes. O desafio era reformular o apartamento descartando o mínimo do que já estava pronto para habitar”.

O pré-existente consistia numa casa com uma sala generosa em iluminação, embora desprovida de terraço, e quartos acessíveis através de uma ala íntima. “A cozinha estava isolada da área social, unida a esta através de uma área destinada a alojar a mesa de refeições”. As alterações de layout visaram, como tal, a transformação de um dos quartos em escritório integrado visualmente com a sala, mas passível de ser fechado para garantir privacidade, e a ampliação da cozinha somada à sua maior ligação com o espaço de estar.

“Os clientes gostam de cozinhar e gostam de fazê-lo mantendo o contacto com a dinâmica da casa”.

As alterações estruturais, de demolição de paredes e de mudanças nas áreas molhadas, concentraram-se no centro do apartamento, onde a sala se avizinha aos ambientes reformulados para respeitarem o programa. Parte do corredor íntimo foi anexada ao escritório mas, em compensação, o antigo roupeiro foi voltado para a área social a fim de servir de aparador e apoio à mesa de jantar. A antiga despensa foi eliminada e integralmente incorporada na cozinha – e redesenhada para o efeito – e a disposição do lava-loiças e do lavatório do WC das visitas foi invertida por forma a facilitar o acesso ao espaço. Também a parede que servia de pano de fundo para a entrada na ala social foi demolida, ampliando-se a abertura da cozinha para a sala.

Orientadas por inspeção estrutural, tais modificações não foram omitidas visualmente. As superfícies em cimento evidenciam a estrutura original – uma somatória de vigas de diferentes alturas e nem sempre alinhadas entre si – e as alvenarias removidas estão demarcadas pelas faixas de cimento que cruzam o piso pré-existente, de madeira.

O escritório recebeu um caixilho fixo de vidro, paginado em faixas horizontais tanto na face voltada para a sala como naquela junto à área de refeições. Cria-se, assim, uma interessante relação visual entre os ambientes e a sala passa a beneficiar de (ainda) mais luz natural. Todos os novos caixilhos, internos, seguem a mesma lógica de paginação e, envidraçados, colaboram para a maior luminosidade do apartamento. Foram, ainda, criadas uma nova porta de passagem para o corredor dos quartos e um novo conjunto de janela/porta de interligação da cozinha com a área de serviço, nos fundos.

“O novo layout é o de uma cozinha em ilha, com ampla bancada executada em aço inox – engastada de um lado e apoiada, no outro, sobre um discreto pilar feito com o mesmo material”. Para contrabalançar a linguagem industrial e a carência de armários, foi desenhada uma cristaleira feita com madeira de demolição e foi dado um especial cuidado à escolha das banquetas, junto à bancada, cujo conforto para a longa permanência era prioritário para os clientes.

Predomina a neutralidade visual dos materiais, contrabalançada pelo ponto de destaque do projeto: os azulejos. Dominantemente em tonalidade clara, estes revestem longas superfícies – as duas faces da base da parede entre sala e escritório, alguns dos pilares, a extensa bancada em forma de L desenhada para a sala – e têm um layout especial, com a inserção espaçada de peças em tom de amarelo queimado. Adiciona-se, assim, cor e grafismo ao projeto, conferindo jovialidade à ambiência geral.

A escolha da totalidade do mobiliário fez parte do projeto, inclusive de peças esparsas provenientes de lojas de velharias. A repaginação dos espaços de banho foi delicada mas impactante, com a substituição dos revestimentos e o redesenho das portas dos armários, e a iluminação agrega luz geral com pontual, através das luminárias, igualmente encontradas em lojas de velharias e afins.

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