Por a 14 Março 2023

As linhas simples, os grandes vãos envidraçados, a paleta de materiais suave e clara dialogam sem barreiras com a paisagem da bela região alentejana onde esta residência familiar se aloja.

Fotografia: Gui Morelli; Texto: Isabel Figueiredo

Construída em 2019, segundo o projeto do arquiteto Gonçalo Salazar de Sousa, esta casa de campo, na região da Comporta, foi gizada para o convívio aberto com a paisagem que a rodeia.

Aos 180m2 de área de construção somam-se os 50m2 de área de estadia exterior sobre o balanço da cobertura — a restante área é jardim, com projeto da arquiteta Teresa Barão, da Topiaris, e construído sobre um areal a partir do qual surgem pequenas “ilhas” de plantas autóctones de diferentes cores e cheiros — e dessa forma o projeto teve em conta a envolvente, revelando-se livre de excessos, já sejam divisões, mobiliário ou acessórios.

Em linha com esta ideia, de fluidez, limpeza e linearidade sem, contudo, prejuízo da sensação de acolhimento, o arquiteto, juntamente com os proprietários, optou por uma seleção de materiais simples. Foram escolhidos para os revestimentos das casas de banho e cozinha, o microcimento, nos pavimentos e tetos, e o estuque com pintura na cor branca nas paredes.

Era desejada – e foi amplamente conseguida – uma zona de estar partilhada com a área de refeições e a cozinha. Esta sala comum teria, além do mais, de ter uma relação franca com o exterior, daí a opção dos grandes envidraçados, com um vão de sete metros de largura, que recolhem para o interior das paredes.

Em dias de bom tempo, toda esta área de lazer e cozinha integrada é aberta à bonita paisagem da várzea, fundindo-se uma e outra, alargando o espaço comum e permitindo que este comporte uma segunda mesa comunitária, sob a cobertura, que se estende por quatro metros.

A luz natural é outra das qualidades a destacar nesta residência familiar. Foi premissa do arquiteto, sustentada pela vontade da família, explorá-la ao máximo em todos os compartimentos, caso, inclusive, da casa de banho da suíte principal, que, para o efeito, tem o seu teto em vidro. Da mesma forma, todas as suítes usufruem desta luz natural e as casas de banho de cada uma têm as paredes do duche totalmente envidraçadas, a confinar com um pequeno pátio interior.

As soluções de arquitetura de interiores estendem-se a demais detalhes, tão ou mais importantes quando a funcionalidade, intimidade e, simultaneamente, liberdade de movimentos são demandas. Assim, a cozinha não tem armários superiores, possibilitando a criação de um enorme envidraçado com vista para o jardim; do mesmo modo, todos os quartos têm o seu próprio pátio ajardinado, sem prejuízo da privacidade em relação ao exterior, dando origem a um ambiente intimista.

Minimalista, a base da decoração assenta em algumas soluções decorativas e de arquitetura, caso da estante que separa a sala da circulação de acesso aos quartos. “Esta estante é constituída por vários módulos vazados em ambas as faces o que permite, contudo, alguma transparência”, diz-nos Gonçalo Salazar de Sousa. Esta transparência, prossegue, “vai diminuindo conforme são colocados objetos nas estantes tais como livros, garrafas de vinho, pequenos peças decorativas, entre outros”.

A liberdade de movimentos e este diálogo com a paisagem são uma constante no projeto. As janelas dos quartos e da sala asseguram o acesso direto ao exterior, já seja para os pequenos pátios ajardinados dos quartos, para o jardim e a piscina. Esta, saliente-se, tem a sua forma quadrada, medindo não mais do que 4×4 metros, com apenas 1 metro de profundidade, e é apoiada pelo banco corrido no seu interior, em todo o perímetro, funcionando, assim, como mais uma zona de permanência.

Todos os vãos são de correr, ficando escondidos no interior das paredes, e são constituídos por vidro, rede mosquiteira e portada interior. Em matéria de funcionalidade, soma-se ainda o sistema técnico escolhido para as janelas que permite abrir e fechar a casa em poucos minutos, além de ser de extrema eficácia em relação ao ruído exterior, aos mosquitos e à vedação de luz. No fim de contas, cada canto da casa é único e especial.

Se a sala é o espaço de eleição da família, porque tem esta abertura franca com a paisagem, dando a sensação de permanente contacto com a natureza, também os quartos são áreas eleitas pelo seu ambiente intimista, em boa medida coadjuvados pelos pátios ajardinados e, em paralelo, as casas de banho, que não concentrando o maior número de horas de permanência, seduzem pelo “mar” de luz que ali reúnem. E, claro, a cozinha, palco de convívio e atividade fumegante, partilhada com a sala, sem quaisquer barreiras que dificultem o diálogo, já seja com os convivas ou com os finais de tarde, sempre um momento espetacular do dia.  

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