Casa para uma família cosmopolita, para quem o essencial é quanto baste. O projeto de arquitetura cumpre com todos os requisitos de quem procura uma relação próxima com a natureza.
Texto: Isabel Figueiredo; Fotografia: José Manuel Ferrão ; Produção: Amparo Santa-Clara
Gizada pelo atelier de arquitetura e interiores Conceitos de Arte, dos sócios João Urbano, Manuel Arez e Pedro Espírito Santo, a construção de raiz de tipologia V4, finalizada recentemente, usufrui de uma localização privilegiada – na Comporta. Aos cerca de 360m2 de área interior somam-se mais de mil metros quadrados de área exterior, num diálogo que tem tanto de harmonioso como de descontraído, em boa medida derivado da forma como o desenho da casa aproveita e interpreta a paisagem em redor.
A residência de férias pertence a uma família de hábitos e gostos cosmopolitas, mas amante da natureza e com uma visão prática da vida, daí a simplicidade geral, mas também a opção pelos materiais e acabamentos característicos e próprios da região.
“O programa assenta numa casa tradicional, sem prejuízo dos padrões atuais de comodidade”, diz-nos João Urbano. “As orientações solares, bem como a próxima relação entre os espaços interiores e exteriores, serviram de mote para o desenvolvimento de uma habitação com vários volumes, típicos da Comporta”.
A arquitetura de interiores revela-se, portanto, numa interpretação minimalista da arquitetura tradicional portuguesa, funcionando a luz exterior e a iluminação como as linhas condutoras da proposta.
Ainda com base nesta premissa, os arquitetos, em conjunto com os proprietários, selecionaram para o pavimento da habitação unifamiliar, na sua totalidade, um microcimento na cor creme. Por seu turno, a generalidade das paredes exteriores e interiores receberam um reboco de aspeto caiado, afagado à costa da colher, e em madeira acabada com velatura branca.
Os tetos apresentam vigamentos de madeira à vista com forro de madeira pintados com velatura branca. Nas casas de banho e na cozinha, destaque para alguns apontamentos de azulejos portugueses.
A salientar, ainda, como nos aponta João Urbano, a parede de madeira da sala, com os dois sofás de alvenaria, numa clara alusão às construções palafíticas locais, bem como a sala de estar e jantar, pela sua amplitude visual a nascente e pelo jogo de sombras e contrastes criados pelas pérgolas exteriores.
As peças de mobiliário e decorativas, numa seleção da autoria de Marta Mantero, têm por base esta paleta de materiais, e a própria localização da casa. Também aqui a comunicação entre arquitetura, envolvente e decoração se faz descontraidamente, sem disfunções ou desvios. As peças de madeira clara, ratãs, cerâmicas e têxteis, a par com algum mobiliário de família, de contornos mais clássicos, descrevem este diálogo sereno.
A generosidade da luz natural que invade toda a área social, nomeadamente a sala comum partilhada com a cozinha, é um dos predicados da habitação. Os grandes envidraçados, deslizantes, abrem ainda mais esta zona de convívio ao exterior, dali se alcançando a zona da piscina, ladeada pelo pavilhão onde se fazem refeições ao ar livre. Aqui, na mesa comunitária, os encontros prolongam-se fora de horas. E o pôr do sol brinda os convivas com nuances de laranjas e violetas.