O estúdio de design e arquitetura de interiores White&Kaki assina o projeto de redecoração de uma casa de férias no Algarve, que pedia cores mais claras e um diálogo frontal com o jardim luxuriante.
Fotografia: José Manuel Ferrão; Texto: Isabel Figueiredo
Na Quinta do Lago, conhecido resort residencial no Algarve, escondem-se algumas das mais belas casas do país, abraçadas por extensas manchas de verde, a dois passos do Atlântico e de praias a perder de vista. Muitas destas propriedades foram desenhadas e construídas para acolher cidadãos de todas as nacionalidades, nalguns casos permanentemente, que encontraram nesta região do sul do país um refúgio de alta qualidade, com todos os serviços a curta distância mas, sobretudo, com a garantia de privacidade e de estarem rodeados de Natureza, além do benefício do tempo ameno que por ali se faz sentir durante a maior parte do ano.
O caso desta moradia de grandes dimensões, com um jardim luxuriante e piscina, não foge à regra e é a morada de férias de um casal de irlandeses que aqui encontrou o seu paraíso em Portugal. A arquitetura do edifício, com alguns elementos de inspiração colonial, caso das portas envidraçadas da sala de estar de acesso ao jardim, assinalam a sua preferência por paisagens tropicais.
Quando Carlos Rocha e Vítor Duarte, os sócios do atelier de design e arquitetura de interiores White&Kaki, foram contactados pelos proprietários, o desafio foi interpretar os espaços interiores clássicos, escuros e algo pesados, e abri-los ao exterior. Mas também, abri-los à luz e à cor.
A casa estava em boas condições, estruturalmente, não sendo necessário, nem desejável, qualquer trabalho de construção, mas antes um facelift cosmético que a dotasse de mais alegria e a tornasse mais convidativa. Afinal, uma casa de férias no sul de Portugal, para quem deixa para trás o céu carregado e cinzento do Norte da Europa, tem de convidar o sol a entrar e proporcionar uma estadia e ambientes descontraídos e confortáveis.
O casal, que antes partilhava uma casa em Santa Bárbara de Nexe com os filhos adolescentes, percebeu a necessidade de substituir a calma daquela localidade algarvia por outra, mais animada: “Eles (filhos) queriam estar mais perto da ação, por isso o nosso olhar voltou-se para a Quinta do Lago”, conta-nos Mary McVeigh.
“Apesar de morarmos na Irlanda, conseguimos construir e mobilar a casa em dezoito meses. Os nossos construtores, Guedes Vidal, foram incríveis, com um bom olho para os detalhes, e a empresa irlandesa (Orior) que contratámos para mobilar fez um trabalho extraordinário”.
Apesar de tudo, chegou uma altura em que perceberam a necessidade de alterar o visual da casa. “Um conhecido nosso sugeriu o Carlos e o Vítor, a dupla da White&Kaki, por isso combinámos um encontro e imediatamente soubemos que estávamos no mesmo comprimento de onda”.
Assim como a propriedade que o casal detém na Irlanda, e na qual habita há 35 anos, viu o seu mobiliário evoluir ao longo dos anos, também a casa de férias no Algarve merecia uma revisão. “Passados 14 anos, era isso que desejávamos para a nossa morada em Portugal”, prossegue.
“Quando visitámos a casa pela primeira vez, o que saltou à vista foi o mobiliário muito clássico, os tons tristes e escuros, e a forma como o diálogo com o jardim de grandes dimensões parecia cortado pelo peso das cores e das peças, demasiado ‘pesadas’, como tal a nossa intervenção foi no sentido de abrir mais os espaços ao exterior, clareando não só a base como introduzindo mais elementos de tons claros com algumas notas de tons vivos”, explica Carlos Rocha, em complemento, e confirmando as necessidades dos seus clientes.
Todas as paredes ficaram, assim, mais claras, inclusive as do exterior da casa, que passaram a ser brancas, substituindo a cor escura com que havia sido pintada originalmente, fazendo hoje o edifício destacar-se entre a folhagem verde das plantas e árvores do jardim da entrada.
Ao nível dos interiores, o grande hall de altura dupla, com a escadaria de acesso ao primeiro andar, o dos quartos, recebeu vários quadros, algumas cerâmicas e vidros, e um canapé de madeira.
“As pinturas são muito importantes”, diz Mary, “especialmente para o meu marido, mas também as peças de arte”, e aponta como exemplo uma escultura particular, trazida da Irlanda, do Dunbrody Famine Ship (que assinala um momento histórico e pungente na história irlandesa). Da mesma forma, alguns móveis ingleses georgianos, uma bonita secretária alemã, um antigo pianoforte transformado em aparador para bebidas, servem como exemplos das peças importadas da casa no país de origem, que hoje aqui convivem com outras, escolhidas pela dupla da White&Kaki ou compradas para a decoração da casa em Portugal.
Continuando no mesmo nível, o da entrada e das áreas sociais, apenas o lavabo social mereceu uma intervenção mais completa, tendo recebido novos materiais – caso do revestimento da parede, do lavatório e do seu suporte, além de elementos decorativos que o dotam de uma atmosfera exótica.
Tudo o mais, passou apenas por introduzir novos revestimentos e algumas peças, sobretudo de arte, caso da pintura contemporânea da autoria do artista português Gil Maia, para, de alguma forma, retirar algum peso ao espaço.
“Era importante casar as peças dos proprietários com outras, mais leves e contemporâneas, de forma a que tudo exibisse harmonia e leveza”, adianta Carlos Rocha. E o resultado não poderia ser mais satisfatório: “No inverno, a grande sala de estar com a sua bela lareira de 1860, importada da Irlanda, dá-nos todo o conforto nos dias frios; no verão, sentamos-nos no terraço coberto e dali podemos observar o miradouro, ouvir o som da água que cai ou dar um mergulho na piscina”, elogia Mary. E acrescenta: “Adoramos o nosso jardim, está exatamente como foi projetado – o Richard, da Jardim Vista, fez um trabalho fantástico”.
No exterior, as alterações de maior vulto verificam-se no grande terraço coberto, em frente à sala de estar, e que se estende até à cozinha e espaço de refeições, adjacentes. “Quisemos transportar o interior para fora de casa, afinal estamos no Sul e esta é uma residência de férias, que pede momentos de lazer e descanso.
E todo aquele jardim é um convite expresso ao descanso e a momentos de relaxe”, salienta Carlos. Para tal, o estúdio de interiores introduziu um grande sofá branco, em forma de L, bem como pufes e cadeiras, que suportam a mesa de refeições de pedra, dentro da mesma filosofia de cor e muito conforto, além de elementos que sublinham o tom colonial, como as grandes ventoinhas em materiais naturais, os vasos com oliveiras, o tapete de juta ou o aparador de madeira. “O Carlos e o Vítor projetaram todos os móveis sob medida para a área de estar do terraço que ficou muito mais confortável, descontraído e com um toque oriental, assim um bocado na onda de Marrakesh”, confirma Mary.
Hoje, a casa de inspiração clássica, algo conservadora, resultou num generoso espaço aberto à paisagem verde, muito mais leve e claro. “Eles (Carlos e Vítor) têm de facto um olhar muito apurado e sabiam exatamente o que procurávamos. Adoramos cada mudança que eles fizeram nesta casa”. E porque o desejo é manterem-se atualizados à medida que a família evolui, e que eventualmente se estenda, Mary confessa ter planeado abrir, mais tarde, toda a área do piso menos 1 para permitir que mais luz flua, “ou talvez isso fique para a próxima geração”, finaliza.