Por a 8 Março 2023

A nova peça do estúdio AT – André Teoman + Ana Rita Pires – é uma mesa inspirada no mundo psicadélico criado pelo efeito visual dos brinquedos da infância de muitos. Versátil e feita por encomenda, reflete o ambiente profícuo e lúdico de muitos dos trabalhos deste estúdio nacional. André satisfez a nossa curiosidade.

Texto: Isabel Figueiredo / Imagens cedidas

Acabamento metálico para madeira ou espelhos, um tamanho à medida do escritório ou da sala de jantar… O atelier de André e Ana Rita propõe uma peça com tanto de versátil como de inesperado e lúdico. Fundado em 2015 como um projeto a solo por André Teoman, com quem já nos cruzamos no passado recente, nalgumas feiras do setor, o AT conta hoje com a colaboração de Ana Rita Pires. Ambos se conhecem desde o curso de Design, mas os caminhos separaram-se depois da licenciatura. André colaborou com marcas de mobiliário de luxo e Rita trabalhou na área do têxtil e do design gráfico. Hoje, lado a lado, abordam todos os projetos como uma equipa.

Como surgiu esta peça, de onde veio a inspiração?

A ideia começou com a tentativa em criar uma mesa de reuniões que prendesse as pessoas ao momento e as desligasse um pouco de todas as distrações digitais dos dias de hoje. Queríamos que a mesa fosse mais do que um objeto, algo mágico. Assim, inspirámo-nos nos brinquedos que costumávamos ter em criança, os caleidoscópios, usando um jogo de espelhos para tal, como um mágico ludibria o espectador.

Qual é o vosso drive, o que vos motiva a continuar?

Tudo aquilo que somos é o resultado de momentos vividos e experienciados à nossa maneira, momentos que acabam por esculpir a nossa personalidade, maneira de pensar e, claro, a nossa criatividade. Felizmente trabalhamos numa área em que há sempre espaço para algo novo, inesperado, que possa ser adaptado e onde há espaço pelo “ainda por fazer”. Tem sido isso, neste últimos sete anos, que mais nos tem motivado. Temos a oportunidade de trabalhar com pessoas maravilhosas e técnicas tanto artesanais como industriais muito especiais. Criar algo que honre estas técnicas ou a sua herança é algo muito satisfatório.

Quais são os vossos principais mercados?

Varia conforme o tipo de trabalho do estúdio. Por um lado, temos a coleção pessoal, na qual somos “pais” solteiros e fazemos aquilo em que acreditamos. É uma coleção experimental, na qual usamos a interseção entre arte e design como um espaço a explorar. O resultado são objetos, conceitos e mesmo experiências sempre com um cunho mais emocional e criativo do que inovador ou tecnológico. Muitas vezes, as peças surgem a partir do contacto com pequenos fornecedores, mas possuem uma característica manual única ou de mestria que, por algum motivo, já não é muito requisitado, quer seja porque a tecnologia traz soluções mais baratas, ou porque o mercado já não procura o que eles oferecem. Tentamos então dar uma nova vida a estas técnicas com uma abordagem contemporânea, de modo a torná-las apetecíveis ao mercado. O que une estas peças de diferentes técnicas como uma coleção sólida, para já, é o conceito de ‘have fun at your home’, em que tentamos que cada objeto seja mais do que uma tipologia puramente funcional, mas que traga algo extra.

Por outro lado, há o trabalho que desenvolvemos para marcas. Deixamos de ser pais solteiros, e temos de nos adaptar ao ADN dessa insígnia. De certa forma, tanto nós como a própria marca temos de funcionar como uma família saudável se queremos tirar frutos desta relação e apresentar um produto primoroso. A parte boa desta relação é que não temos de criar as pontes entre o designer e a produção, porque normalmente as marcas já possuem as suas produções com máquinas a funcionar e a cultura de design já vem desde o início da empresa.

Quais os materiais que estão atualmente no vosso radar?

Estamos sempre atentos às técnicas artesanais, às forma de criar pontes entre estas e a indústria criando objetos de assinatura ao invés de massa. Adoramos visitar as feiras de artesanato e conhecer as pessoas por detrás das manualidades e, por vezes, tentamos pensar em como unir materiais diferentes a estas técnicas em vias de extinção. Algo que nos tem cativado muito recentemente é como usar materiais em fim de vida com técnicas artesanais que façam sentido, mas isto é um processo e pode não chegar a lado nenhum. Felizmente, o processo acaba por abrir sempre outras portas.

Qual a peça mais destacada pelos meios de imprensa até hoje?

Uma das peças que mais força teve tanto na imprensa como nos eventos em que nos apresentamos foi a mesa Kaleidoscope. A forma como o utilizador interage com ela e a presença que a peça tem acaba por ser um showstopper e muito acarinhada. Por outro lado, uma das peças mais recentes e com muita aceitação é a Soldita, (solda + bonita), uma peça mais experimental, que nos levou a repensar a forma de usar a solda não apenas como uma técnica utilitária e estrutural, mas como algo estético a não esconder.

O que está para breve?

Temos vários projetos em andamento para 2023, bem como novas parcerias com marcas internacionais que esperamos apresentar em breve. Há ainda um projeto na calha, em desenvolvimento há tempo, que é uma marca de objetos de pequena dimensão. Esperamos lançá-la e continuar a explorar/repensar técnicas para criar trabalhos experimentais em que quer o designer, quer o produtor consiga aprender algo novo e daí surja um produto “fora da caixa”.

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