Esta casa dos anos 70, num bairro tradicional de Lisboa, apresenta vários elementos tradicionais, mas também uma combinação de cores e texturas que a dotam de alguma leveza e jovialidade.
Texto: Isabel Figueiredo / Fotografias: Ricardo Junqueira / Produção: Amparo Santa-Clara
Uma casa num bairro tradicional de Lisboa, para uma família numerosa, composta pelos pais e os seus quatro filhos, com idades compreendidas entre os seis e os 12 anos, teria de ser generosa em área. Tão generosa como esta família.
Dividida em três quartos – e ainda um outro para a empregada –, uma sala, uma casa de jantar, um quarto de estudo e de brincar, uma cozinha e cinco casas de banho, a habitação soma 230m2 de área e, por ser alugada, não pôde ser alvo de qualquer tipo de obra. Mas nem por isso ficou livre de algumas intervenções inofensivas, nomeadamente a aplicação de papel de parede numa das casas de banho e de alguma pintura, aqui e ali, bem como do revestimento do chão nos quartos das crianças para maior conforto térmico como visual.
As salas de estar e de jantar são espaços com boas áreas, e o facto de ainda existir uma terceira sala de apoio, usada como quarto de estudo e de brincadeiras, permite que nesta casa a família possa circular livremente e dedicar-se às suas tarefas individuais sem atropelos.
Tudo no apartamento é de origem. O taco de madeira escura dos anos 70 evidencia uma época que casa bem com as peças que aqui se arrumam, provenientes de outras moradas desta jovem família. Um pouco por toda a casa, em particular na sala de estar e na casa de jantar, harmonizam-se as varias peças, muitas delas heranças de pais e avós, “e que por isso são muito queridas e tão especiais”, referem-nos os nossos anfitriões. Estas peças “são a presença viva dessas pessoas e das boas memórias e histórias que foram vividas nessas casas”, sublinham.
É notória a atmosfera clássica na casa, mas nem por isso pesada. As cores pastel, alguns padrões floridos, os veludos, os óleos ou a fotografia, estabelecem um dialogo harmonioso com a arte, o mobiliário, os artefactos…
“Gostamos de casas clássicas e tradicionais. É como um porto seguro, inspira tranquilidade”, prosseguem. “Uma casa clássica é um espaço onde o tempo pára, é um lugar em contraponto à correria e ao stress do dia-a-dia, mas em boa verdade esta é uma casa clássica com um twist, porque nos brinda com uma atmosfera de bem-estar, não é pesada”.
São vários os elementos que fazem com que o fator curiosidade tenha aqui um papel importante. A começar pela coleção de animais que invade a sala, composta pelas carapaças de tartarugas de Moçambique, as carpas Companhia das Índias, a campânula de pássaros embalsamados, os peixes e pássaros em cerâmica, as borboletas e pequenos insetos embalsamados, os gansos de ferro e os troféus de veado ou a corça na casa de jantar – presentes de um amigo muito querido ao casal. Todas estas peças forem sendo reunidas ao longo dos anos e têm um valor sentimental muito especial.
Ainda na sala de estar, saltam à vista as telas dos guerreiros Maoris, oriundas da Loja do Museu do Arroz, na Comporta, a fotografia dos anos 80 do estúdio de Christian Lacroix – e a preferida da dona da casa –, o óleo True Fake de Delacroix, “ uma perfeita imitação”, explica-nos, “um óleo sobre tela, em que foi desmesuradamente ampliado o tamanho relativamente ao original”, a escrivaninha com terminações em pagode, da Fundação Ricardo do Espirito Santo Silva, “uma muito querida herança”, bem como o São Martinho – ao qual ainda foi delicadamente depositado um pássaro no braço –, os sofás com tecidos da Nina Campbell e veludo liso cinzento claro, os potes amarelos Vista Alegre da Leitão & Irmão ou o nicho de grandes proporções forrado a tecido príncipe de Gales, que era a passagem para a sala de estudo e quarto de brinquedos.
Na casa de jantar, igualmente grande em área, os tapetes claros ajudam a cortar o efeito pesado dos tacos de madeira escuros e à mesa, com 16 lugares sentados, servem-se caviar e ovas de salmão selvagem, duas das iguarias preferidas nesta casa. Todas as cadeiras são da Fundação Ricardo do Espirito Santo Silva e eram dos avós paternos do marido da dona da casa. “São das suas peças preferidas”, confessa-nos.
Na zona intima, as cores remetem para a calma. O azul e o branco imperam. “É a cor preferida e, por sorte, a melhor cor para descansar”. O quarto dos rapazes “é espartano em espaço e por isso resume-se ao essencial! Aqui, as paredes azuis claras, o beliche branco, a mesa de cabeceira, o sommier e um banco corrido para colocar as fardas do colégio para a manhã seguinte são, basicamente, tudo o que basta”. O chão foi alcatifado de azul turquesa, o que se saldou numa solução divertida e as cortinas em tecido Vichy acabaram por consolidar a boa decisão.
No quarto da rapariga, que é “praticamente igual ao dos rapazes, mas com alguns brinquedos, as cortinas e a colcha com catatuas, tecidos da Nomad e uma cama lacada de branco conta-se a mesma história de simplicidade e funcionalidade”. No quarto do casal, a cama da Hastens revela-nos que um sono de qualidade foi, seguramente, uma das decisões, entre outras, nesta equação de escolhas funcionais para os espaços de dormir.
Percebemos bem por que razão há́ aqui reunidas tantas peças preferidas. Porque aqui residem muitas histórias e memórias. E quem aqui mora preenche esta casa de mais vida e histórias que, seguramente, irá um dia enriquecer outras casas com mais lembranças e narrativas.