Por a 17 Agosto 2022

O arquiteto Pedro Silva Lopes, do coletivo Fragmentos, assina o projeto desta casa, com decoração de interiores da sempre surpreendente Marta Lucena.

Esta é a história de uma nova construção dentro do logradouro de um prédio existente. A preexistência, como nos conta o arquiteto Pedro Silva Lopes, “com claro valor arquitetónico, foi valorizada com a manutenção da sua imagem, recuperação dos azulejos, cantarias e guardas da fachada”.

Por seu turno, a antiga porta de acesso à leitaria, passou a ser hoje o acesso à garagem, sem qualquer alteração de imagem do espaço público e replicando, de forma exemplar, a preexistência.

“Um dos pontos de interesse é a sala da lareira, com o seu teto em betão à vista, e a lareira de tijolo de burro, que foi feita com o reaproveitamento da demolição do edifício da preexistência”.

O edifício que ali morava, foi reformulado, mantendo-se as suas características, mas todo o seu interior foi redesenhado pensado para uma casa familiar distribuída em dois níveis.

No piso superior, arrumou-se a zona social – e com o Vale de Alcântara como cenário -, a cozinha, com pátio, a sala de televisão e a sala principal, com dois ambientes. Em estreito diálogo com estas, convivem os dois espaços exteriores: um terraço e um jardim.

“Era importante, no âmbito do programa, desenhar uma casa de família, em que os quatro filhos tivessem o seu espaço, tanto individual como social, bem como pensar na criação de áreas sociais que permitissem um uso confortável, no dia-a dia-e, ao mesmo tempo, que este fosse um espaço para receber os amigos, tudo isto tirando partido das vistas sobre o vale de Alcântara”, prossegue o nosso interlocutor.

A lógica de implantação foi definida pela geometria do terreno, do desenvolvimento altilmétrico e da exposição solar e vistas. Dessa forma, e através de uma rampa exterior, foi unido o piso de entrada/garagem à cota de entrada, onde se situa a piscina, estando os quartos organizados em volta desta e do pátio inferior.

Os quartos desenvolvem-se em torno deste pátio, com duas grandes áreas divididas pelo hall de entrada. A ‘master suite’ e o quarto de hóspedes, alojados na ala mais a sul, e a zonas dos filhos, que foi desenhada à imagem dos mesmos, com três pequenas celas, duas casas de banho de apoio e uma zona social, resumem um conceito de residência privada pensado como “um mundo à parte que faz a delícia de quem o habita”.

Subindo ao nível superior, temos toda a área social, que tira partido da vista e da exposição solar enquadrada com dois jardins/pátios, que são as salas exteriores e espaço de vivência diário. Aqui, a cozinha, com ligação à sala exterior, é ponto de partida, sendo depois complementada por uma área social com três ambientes: zona da lareira, da televisão e sala de jantar.

“Um dos pontos de interesse é a sala da lareira, com o seu teto em betão à vista, e a lareira de tijolo de burro, que foi feita com o reaproveitamento da demolição do edifício da preexistência”. Com efeito, este contraste de materiais, enfatizado pelo trabalho do design de interiores de Marta Lucena, acrescenta ainda mais valor ao espaço e arranca-nos uma sensação de surpresa e admiração.

Os materiais desempenham um papel importante neste projeto e são de salientar, como nos confirma o arquiteto, o betão aparente no teto da sala, o tijolo de burro, que veio da demolição para a construção da lareira, a madeira na zona social, o microcimento nos pavimentos dos quartos do piso 0 e o RMC no pavimento da cozinha”. A ideia, prossegue, era a de uma casa “em que os materiais não fossem protagonistas, mas tivessem uma presença neutra que enquadrasse o espaço e a luz, estes sim os verdadeiros protagonistas”.

Desenvolvida em dois pisos, a casa aloja, no piso térreo, a zona dos quartos, implantada à volta de um pátio delimitado pela casa e pelo muro já existente – pátio para onde foi destinada a piscina. Os quartos desenvolvem-se em duas alas: numa primeira, a dos filhos, com três pequenos quartos, duas pequenas casas de banho, um corredor comum e uma zona social para o dia a dia. A segunda, dividida pelo hall de entrada, comporta a ‘master suite’ dos pais e a suíte do filho mais velho.

No piso superior, arrumou-se a zona social – e com o Vale de Alcântara como cenário -, a cozinha, com pátio, a sala de televisão e a sala principal, com dois ambientes. Em estreito diálogo com estas, convivem os dois espaços exteriores: um terraço e um jardim.

A decoração dos acabamentos, materiais de revestimento, móveis e tudo o que é fixo, fez parte do projeto de arquitetura. “A decoração surge como complemento e enriquecimento dos espaços criado”, diz-nos. “A intervenção da Marta Lucena, potenciou de forma exponencial o espaço criado e toda a preocupação no detalhe fez a diferença no resultado final. Todo o processo foi fluido, simples e bastante conseguido, e todas as escolhas foram feitas em comunhão, sempre, e como já salientado, partindo do pressuposto do espaço preexistente”.

A arte e o design têm um papel importante neste projeto. “As texturas e os materiais, bem como a decoração, tiveram em conta o quanto ecléticos somos.

Apesar de um fio condutor claro, de ambiente tranquilo, ‘cozy’, de personalização através da utilização de objetos que já existiam – mas agora com um diferente código de diálogo no espaço -, da introdução de os novos elementos com tons neutros entre verdes e castanhos, este conjunto resultou num espaço singular e esse é o maior crédito do projeto de decoração”. A arte aparece como um novo elemento na zona social, através de duas peças de artistas contemporâneos portugueses: Eduardo Caeiro e Gil Cortesão, que dialogam frente a frente na zona social da casa. As peças de design a destacar, a nosso pedido, são uma cadeira na sala de televisão de design nórdico dos anos 50, comprada na Retroage, bem como todo o mobiliário exterior, a mesa de refeições e os  cadeirões, que são da Fermob.

Lá fora, o jardim envolve todo o edifício em dois patamares diferentes e funciona como se fossem pátios que se adaptam as diferentes cotas do mesmo. Este jardim foi desenhado pela Pólen e construído pela Terra Lógica.

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