Fotografia: Greg Cox / Bureaux Texto: Lori Cohen / Bureaux Adaptação: Isabel Figueiredo
O jardim vertical é o centro das atenções desta casa, escondida no Bo-Kaap, na Cidade do Cabo. A simplicidade do design guarda detalhes com muito encanto, mantendo um pé no passado e salvaguardando a estética moderna.
Foram necessárias três tentativas até Craig e Christian Tabor-Raeside decidirem a cor perfeita da sua casa renovada. Um desafio especial para os moradores de Bo-Kaap, o antigo “bairro malaio” com 170 anos, famoso pelas suas fileiras de casas de várias cores.
O casal ficou-se pela “Marsala” (Cor da Pantone ), mas além do exterior em tons terrosos, a casa, de três andares, é pura sofisticação monocromática – dominada pela exuberante parede verde que oferece uma perspectiva inesperada em dois níveis.
Craig comprou a casa há mais de 10 anos, quando ainda morava em Londres. Quando regressou à África do Sul, a sua “propriedade de investimento” acabou por se revelar o espaço ideal para criar raízes e dar asas à sua veia de designer, e como tal pediu ao amigo e arquiteto Chris van Niekerk, da The Fold Architects, que desse vida à sua visão.
“Quando olhei para o layout do terreno percebi que o que parecia uma via de serviço era, na verdade, parte da minha propriedade. E apaixonei-me pela ideia de usá-la para construir um jardim vertical ”, diz Craig.
Outra descoberta – revelada quando o teto original precisou ser arranjado – foi a potencial vista de Signal Hill e Craig acrescentou um espaço na cobertura à sua lista de desejos. O resto estava em aberto. “Temos um gosto parecido, por isso dei total liberdade a Chris para fazer o que ele quisesse”, lembra.
O arquiteto aceitou o desafio de criar uma ilusão de ótica. Craig queria muita luz e a sensação de espaço, que iria mascarar o tamanho real da casa. E para isso abriu a parede do edifício voltada para sul e instalou janelas com estrutura de aço, altamente resistentes à luz. “As janelas também permitem que o jardim seja visível de todos os espaços da casa”, diz Chris. Um óculo no teto e o piso de tábua corrida no segundo nível foi a solução simples para espalhar luz natural pelos dois andares.
É esta chuva de luz e, naturalmente, o jardim vertical, que nos impactam assim que entramos na casa. O piso térreo é um espaço arejado com cozinha, sala de jantar e uma sala de estar recolhida. É um espaço simples, mas acolhedor, com detalhes surpreendentes que suavizam os materiais rudimentares.
A ilha e as colunas da cozinha são de cimento, cuja textura foi preparada para combinar com o grão do abeto usado nos armários. As janelas de aço preto projetadas por Chris têm incrustações de vidro bronze para um toque de glamour. “Foi uma maneira simples de podermos usar um material precioso como latão, com moderação, promovendo uma sensação de poesia em elementos funcionais, como uma janela. A inspiração veio da necessidade de querer elevar este item de sua função utilitária habitual”, explica Chris.
Além do jardim vertical, a característica dominante do piso da cozinha / sala de estar é a escada de aço preta que conduz ao segundo andar. “Levou cerca de seis meses até acertar todos os ângulos, tinha de garantir que tudo estava no lugar certo”, diz.
Se o espaço no piso térreo exibe peças da Hay, Tom Dixon e outros designers icónicos, o segundo andar com dois quartos, um WC e um patamar aberto são como pátio suspenso. “É ótimo ter um espaço externo no nível do quarto. Passamos as manhãs aqui a beber café e ler o jornal. Este espaço serve ainda de ligação entre o quarto de hóspedes e o quarto principal, o que o torna mais social ”, diz Craig.
Craig adora o jogo de claro/escuro em toda a casa. “Como o segundo andar é tão ‘leve’, pudemos escolher tintas muito escuras para as paredes e colorir os pisos de preto. Ao subirmos, parece que estamos a entrar num lugar calmo e especial ”, diz. As cores orgânicas e o chão preto funcionam maravilhosamente com a parede frondosa que dá à casa a ideia de um “jardim suspenso”. É como um segredo que ninguém diria que se esconde atrás das paredes do chalé.