Por a 28 Abril 2021

O ‘very typical’ lisboeta que tanto tem apaixonado cidadãos dos quatro cantos do  mundo concentrado numa só habitação.

Fotografia: Ricardo Junqueira Produção: Amparo Santa-Clara

Por: Mafalda Galamas

A íngreme calçada das ruas da Lapa, o prédio de traça antiga, o patamar de escadas e degraus estreitos e o cão a ladrar lá de cima. À porta, um sorriso hospitaleiro e a porta escancarada de quem tem sempre espaço para mais um.

Isabel Theodora, moradora do apartamento que hoje lhe mostramos, é espontânea, informal e divertida. Faladora, bonita, de sorriso fácil e emotiva. E isso nota-se em cada canto desta habitação. Sem projetos de decoração pré-definidos, sem a perfeição de uma cozinha com alta tecnologia ou uma casa de banho com os revestimentos tendência. Nota-se, sobretudo, na alma da casa. Tudo conta uma história, tudo remete para uma memória e juntos refletem uma vida cheia de tudo o que mais importa.

Estávamos em 2014 quando Isabel descobriu esta casa, pelo facetime. O pavimento de madeira pintado de branco e as portas e guarnições pintadas de cinzento foram amor à primeira vista. As várias salas e salinhas, quase labirínticas, e a incrível luz nascente-poente que só Lisboa conhece, foram apenas a cereja no topo do bolo.

Desde então, tem reunido aqui os pedaços da sua vida. Na sala de estar, encontram-se os sofás, as duas poltronas azuis adquiridas em segunda mão, e a mesa de madeira com banco de veludo encarnado, pertencentes à família.

Isabel Theodora é artista, e isso está refletido de várias formas. Aqui mesmo, vemos exibida na parede a escultura de uma cabeça de cavalo desenvolvida em parceria com a fotógrafa Paula Guimarães. A obra foi pintada e decorada pelas duas, e exposta no México.

As restantes paredes exibem outras formas de arte, das fotografias e molduras da autoria de Carolina Pimenta, às de Marina Saldanha captadas no Vietname. Um trabalho mixed media de Luísa Salvador e até a instalação executada com trapilho e lixo retirado do mar que vemos entre janelas (de Janils dellarte), que está sobre um pedaço de um poema de Rezmorah.

Também a sala de jantar exibe um quadro de Manuel Tainha, uma ilustração de Mathilda Della Torre e outros quadros que foi colecionando durante a sua vida. A mesa de refeições foi reciclada por Isabel, assim como o armário amarelo. E, claro, as plantas, muitas plantas!! Não fosse Isabel Garden & Flower Designer,  fundadora da marca Nina Garden.

A cozinha é outra pérola, quase kitsch, não no sentido pejorativo, mas assente na ideia da nova cultura que corrompe todas as formas de expressão convencionais colocando antes a tónica na intensidade das emoções, numa ótica quase romântica. 

A chaminé, intacta desde a sua criação, guarda em baixo o espaço do Jacaré (lembram-se do cão que ladrava?). Nas paredes, pratos de Bordallo Pinheiro, antigas canecas de esmalte e um precioso calendário dos legumes.

Por sua vez, no quarto, Isabel prefere plantas e flores a roupa, sabia que as espadas de São Jorge produzem oxigénio durante a noite? A colcha de bordado mexicano e os objetos e fotos de familia são o que lhe basta na hora de repousar. O closet é ao lado, e tem em destaque um armário asiático, cheio de personalidade!

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