Por a 13 Abril 2021

Total harmonia entre arte e tradição neste projeto de Francisco Torres em pleno Largo do Carmo.

Fotografia; José Manuel Ferrão Produção: Amparo Santa-Clara Texto: Leonor Corrêa da Silva

A estrutura original desta casa, localizada no coração do Chiado, data do séc. XV, tendo sido alvo de bastantes modificações e adições ao longo dos tempos, sobretudo no período pombalino – nomeadamente, alterações nas ruínas da antiga parte da ala dormitório do convento do Carmo e, já no séc. XX, na ligação ao edifício adjacente. 

Com cerca de 250m2 divididos em dois pisos e terraços, esta casa, intervencionada pelo arq. Francisco Torres há́ cerca de 3 anos, é um refúgio fora da escala habitual das casas de Lisboa e da agitação do Chiado. Aqui almoça-se ao sol no terraço, tendo como som de fundo a companhia dos pássaros… 

A sequência da entrada, galeria, salas e terraço cria o ambiente perfeito para uma casa de campo no centro da Lisboa.
De realçar a altura dos tetos, com mais de 4,5 metros, alguns abobadados, e o piso em terracota artesanal que se desenvolve à volta do pátio coberto por jasmim e vinha virgem, com aponta- mentos mediterrânicos, tais como oliveiras, rosmaninho e lavanda. Nos muros temos albarradas de azulejos azuis e brancos do séc. XVII, entre lanternas desenhadas e produzidas pelo Atelier Francisco Torres. 

Na entrada e galeria, anteriormente usada para acesso a estábulos e armazéns, foi criado um jogo de luzes que acentua a profundidade do espaço.
A sala principal que se abre para o terraço é preenchida por uma eclética mistura de mobiliário estampilhado do séc. XVIII e design contemporâneo assinado pelos melhores designers internacionais. De Georges Jacob e Sené, passando por Jean- -Michel Frank e Willy Rizzo, até aos contemporâneos Ron Arad e Mark Newson, todas as peças são únicas, criando um ambiente refinado, mas também descontraído e despretensioso, aquecido pelos tapetes de lã Beiriz que convivem com sofás desenhados pelo autor e peças de grandes dimensões de artistas contemporâneos – como Isaque Pinheiro, Francisco Vidal, ou Mauro Cerqueira.

Os livros são uma presença constante em todo o apartamento, pontuados por objetos de coleção – primitivos, romanos ou in-do-portugueses e expansionistas – e obras de pequena escala de artistas consagrados, como César, Louise Bourgeois, Franz West ou Diego Giacometti. 

Destaque para a iluminação das obras da coleção, feita por spots AR111 Prolicht, e pelo muito presente par de “candeeiro escultura” em metal preto e pergaminho do italiano Mauro Fabbro. Como ponto de fuga à galeria temos, na primeira das salas, uma rara consola barroca de gavetas em talha dourada proveniente do Palácio da Mitra, sobre a qual foi colocada uma fotografia dos anos 70 de Helena Almeida e uma pequena escultura de Fernando Botero; na parede, a escultura “Memória Ramo”, de Isaque Pinheiro.


Sobre a mesa em metal espelhado, desenhada por Ron Arad, parte da instalação criada pelo artista para a Fondation Cartier em 1994 e uma escultura da ceramista portuguesa Bela Silva. Os sofás de linhas direitas desenhados pelo Atelier foram forra- dos com tecido Dominique Kieffer e, de cada lado, candeeiros originais de Greta Grossman; na parede, uma obra de Mauro Cerqueira, com cera e pigmento sobre vidro espelhado, reflete os muros do terraço cobertos de jasmim. 

A mesa central, em metal preto e madeira, apresenta pratas manuelinas e peças indo-portugueses; dos lados, um par de bérgeres douradas francesas do séc. XVIII, estampilhadas pelo ébeniste Georges Jacob, e pequenas mesas de apoio dos anos 50 desenhadas por Mathieu Matégot. Na parede do lado direito do sofá́ encontramos uma obra do artista espanhol Karlos Gil. Na segunda sala, sobre o sofá́ de Florence Knoll com almofadas em linho bordado, seda e crina de cavalo, impõe-se a grande tela de Charlie Billingham. 

As mesas em metal cromado e bronze dourado são provenientes do apartamento do célebre designer e fotógrafo Willy Rizzo, com desenho do artista.
Sobre os livros, várias esculturas de Louise Bourgeois, Miguel Branco e Vasco Futscher. As cadeiras francesas douradas, forradas a cabedal preto, são assinadas Jean-Baptiste-Claude Sené; na parede foi colocada uma escultura de Vasco Araújo.

A cozinha está lacada a branco com tampos em Corian – sobre a bancada, uma natureza morta em cerâmica de Bela Silva, uma fotografia de Alexander Calder, e uma raríssima chocolateira Arita, sobre montures em bronze dourado do séc. XVIII. 

Já́ no primeiro piso da casa, também com tetos em abóbada, aloja-se o quarto de grandes dimensões onde, por cima da cama, está exposta a obra composta por várias fotografias “És- tudo Cromático para o Azul”, do fotógrafo brasileiro Márcio Vilela. Na parede da janela, emoldurada por cortinas em linho branco, inspiradas no modelo criado por Thomas Jefferson para Monticello, duas obras de Francisco Vidal e uma peça em talha dourada representando duas águias, de origem francesa e datada de finais do séc. XVIII. 

De destacar ainda a cadeira encarnada com a Tríplice Pluma, desenhada por Lord Snowdon para a investidura do Príncipe Carlos de Inglaterra como Príncipe de Gales em 1969. 

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