Central e cosmopolita, este apartamento decorado por Rita Roquette, concilia os séculos XX e XXI de forma subtil e despretensiosa
Fotografia: Alexandre Kühl Oliveira Produção: Amparo Santa-Clara Texto: Mafalda Galamas
Marcámos encontro algures entre o Largo do Rato e a Av. da Liberdade. O escritor, historiador, jornalista e poeta português, Alexandre Herculano, ficou para sempre aqui recordado numa rua cosmopolita, onde tudo acontece apenas a dois passos. É num destes prédios do centro de Lisboa, que a decoradora Rita Roquette conta como deu a volta às características mais clássicas da habitação que mostramos nesta edição.
Embora a construção remeta para o início do século XX, os seus acabamentos refletiam os nostálgicos anos 80. Uma das primeiras intervenções neste T2, de 120 m2, foi deitar abaixo algumas paredes, nomeadamente na entrada da sala, o que, para além de ganhar em dimensão, também permitiu que a luz se propagasse pelo resto das divisões.
Uma das prioridades era aligeirar o ambiente. Para isso, uma das opções foi pintar as antigas e pesadas tábuas de madeira, de branco, tal como as restantes carpintarias. Os três metros de pé-direito foi uma das características que mais fascinou a proprietária. Tudo ganha outro impacto, sobretudo quando as portas e janelas acompanham a larga dimensão.
A tela branca que é a sala acolheu para elemento central uma antiga banqueta em pele de vaca. Aqui, ganhou uma nova vida e é elemento de destaque. Divide a zona de lazer, com o sofá, e a área de trabalho, com uma secretária da loja Cavalo de Pau. O candeeiro de estilo industrial, touch, além de funcional, é um dos elementos que mais traz contemporaneidade ao espaço. Contrasta com o móvel, um contador (idêntico aos das tipografias), encostado ao sofá, claramente de outra época.
Discretamente étnico, o mood desta sala deixa ainda perceber alguma ligação com África. As peças vindas de Moçambique foram emolduradas e colocadas em destaque numa das paredes brancas da sala. Por sua vez, as estantes altas, de linhas direitas e modernas, foram desenhadas pelo arquiteto Jorge Nobre, e albergam pedaços de uma vida… livros, fotografias e pequenas recordações estão em espaço próprio.
Mesmo ao lado, no recanto de jantar, o papel de parede Élitis, de cor azul, deu o mote para os tons da decoração. As cadeiras de tecido, em torno da camilha, respeitam a cor da parede e dão conforto ao espaço. Este está iluminado por um candeeiro Santa Cole, adquirido na loja Rita Roquette Interiores.
A zona mais recatada da casa é a suite. A cama de casal está encostada ao papel de parede de riscas castanhas esverdeadas, igualmente da Élitis. Não ofusca, nem a cómoda de época, nem o banco oriental de cor preta. Na verdade, é o “Kilim” estendido no chão que mais vibra nesta divisão. Quem sabe se já faz ligação com o revestimento de pastilha encarnada da casa de banho? Moderna e inteiramente renovada por Rita Roquette.
Também no quarto da filha da proprietária é o papel de parede que marca o ritmo. Um painel que confere profundidade, com a intemporalidade do preto e branco. Uma imagem que está de acordo com um certo estilo urbano de quem aqui vive. A cama de gavetão está aconchegada por um edredão de padrão étnico da Élitis e a secretária, executada em MDF pintado de branco, foi igualmente desenhada pelo arquiteto Jorge Nobre.
A requalificação do apartamento conjugou e integrou soluções recentes com algumas que fizeram questão de manter.