Por a 2 Dezembro 2020

Um apartamento que vive num prédio classificado. A monumentalidade dos vitrais da Lisboa antiga. E o tour depois da remodelação integral.

Fotografia: João Bessone Produção: Amparo Santa-Clara Texto: Mafalda Galamas

Chegado ao fim o processo de crescente abandono de um apartamento que vive numa das artérias mais luxuosas da cidade, eis que esta habitação volta a sentir o pulsar da cidade viva e moderna. Grande parte dos apartamentos desta rua datam do início do século XX, mais ou menos discretos, muitos são de estilo arte nova.

Quando Rita D’Argent pela primeira vez visitou o imóvel não deixou que as paredes de cores escuras, as carpintarias apodrecidas e os tetos degradados lhe toldassem a objetividade. Desde cedo, a nova moradora deste andar percebeu as potencialidades da casa distribuída por nove assoalhadas, mais áreas húmidas (cozinha e casas de banho). Mesmo timidamente, a beleza arquitetónica dos vitrais da sala de estar, fizeram-se notar.

Ao fim de dois anos de intervenção nesta casa de distribuição peculiar, com muitos quartos interiores e casas de banho generosas com vista para a rua, o resultado não poderia agradar mais. Os tetos anteriormente trabalhados, no topo deste pé direito com quase quatro metros de altura (3,70m), renasceram e voltaram a ganhar a imponência dos seus tempos áureos.

A empresária do ramo do turismo, fundadora da Portuguese Living, recorreu à experiência e sabedoria da designer de interiores, Joana Pereira Caldas, para enquadrar a sua nova habitação no século XXI.

Aos primeiros passos, percebemos logo a ascendência belga e francesa de Rita. A ‘’assinatura’’ D’Argent surge na parede de forma assertiva e divertida. As letras compradas aleatoriamente há quase 10 anos na loja de Sandy Graça – La Brocante Gallery Store – compõem o apelido da família que aqui vive, composta por mãe e duas filhas adolescentes. No hall convivem em harmonia o móvel de época, herança de família, e o candeeiro suspenso cor de laranja, de design italiano, integralmente feito com tubo de mangueira.

A sala de estar com vista desafogada para a rua, é onde tudo acontece. Desde o sofá que transitou da anterior casa da proprietária, ao sofá maior de inspiração Missoni, tudo convida a ficar. O cadeirão preto e as almofadas marroquinas são do Atelier de Ana e Pedro Seiça Ramos. Mas aqui, destacam-se, sobretudo, as obras de arte na parede. A fotografia da conceituada fotógrafa alemã Cândida Hofer, especialista a registrar pela sua objetiva bibliotecas por todo o mundo, é um desses exemplos. Bem como, o retrato da brasileira Cátia Castel Branco ou o quadro de Paulo Damião.

Mas nem todas as peças são de renome. A mistura de artigos vindos daqui e acolá são o que confere maior charme ao espaço. As peças étnicas são uma coleção de máscaras oriundas das várias viagens de Rita D’Argent e os bancos baixos, originais, foram adquiridos num leilão online.

Ao lado, na sala de passagem, encontramos outra imagem de Cátia Castel Branco. Na parede junto à namoradeira com vista privilegiada para a janela está exposta uma tríade de quadros assinados por Pedro Portugal; Miguel Teles da Gama e Filipe Pinto Soares, todos autores amigos de Rita. Contrastam com a incrível gazela feita de latas de coca-cola!

Paredes meias existe o escritório que é, em simultâneo, zona de trabalho e espaço de meditação. Rita D’Argent acredita na espiritualidade – mais do que em qualquer credo -, o que justifica o pequeno altar.

Conversa puxa conversa alcançamos a sala de jantar. Perdão, a incrível sala de jantar (!), com arco ao centro e tetos trabalhados. As portas com vitrais em tons de azul e amarelo que deixam entrar a luminosidade proporcionada pelo Sol são o ex-libris da casa.

Do outro lado, a varanda, com lanternas venezianas para um ambiente mais descontraído e chill out. Tratando-se de um dos mais nobres prédios da Rua Braamcamp, nada mais justo do que acomodar os convivas em cadeiras de jantar D. Maria. Acima, o candeeiro de porcelana do criador Jeremy Cole, que representa as três fases da planta Aloé Vera. A romper total e, inesperadamente, com este registo, está o ferramenteiro de ferro oriundo de uma siderurgia da Alemanha de Leste. Assim como, a cabeça de Touro oferecida por amigos numa alusão ao signo de Rita D’Argent.

Aberta à sala de jantar e numa transição natural depois da refeição, a pequena divisão da qual destacamos os fabulosos candeeiros, do suspenso ‘’Pierce’’, da Artemide, ao de prata martelada do Atelier de Ana e Pedro Seiça Ramos. Na parede, o quadro de Paulo Damião e a gazela Luís Bivar.

No total, a casa tem quatro quartos. Para entrar na suite de Rita D’Argent atravessamos as encantadoras portas com traça original e vidros desalinhados. Aqui, é inevitável focarmo-nos na tela a preto e branco na parede, onde a empresária registou um dos momentos mais pessoais do seu papel de mãe. O candeeiro é o EOS da Vita e as malas de viagem a fazerem as vezes de mesas-de-cabeceira foram adquiridos em leilões online. O quarto tem passagem direta para o closet e casa de banho.

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