Por a 25 Maio 2020

Fotografias: Cedidas por Sofia Sustelo

Acompanhamos o seu trabalho desde o início. E quem a segue no instagram sabe que tem vindo a crescer de forma firme e sustentada. O seu mood não é só inspirador… chega a ser viciante!

Sofia Sustelo, 36 anos, é de Lisboa e foi na capital que se licenciou em Artes Plásticas na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Posteriormente, rumou a Londres complementando a sua formação com o curso de Design de Têxteis no Central Saint Martins. Estudou ainda Design Gráfico na ETIC e Fotografia no Centro Português de Fotografia. Cartas baralhas, e jogo distribuído o resultado não podia ser outro: Uma aposta ganha de seu nome Homes In Colour!

Há quanto tempo existe o projeto Homes in Colour?

O Homes in Colour surgiu há cerca de seis anos enquanto blog, e há cerca de dois como marca de cerâmica.

Como nasceu?

O blog surgiu em abril de 2014 depois de me ter tornado uma leitora relativamente regular de alguns dos blogs de design e decoração mais conhecidos a nível internacional, e de me ter apercebido o quanto me inspiravam. Eu tinha chegado de Londres há três anos, onde tinha estado a trabalhar no atelier de uma designer de têxteis para interiores e acessórios de moda, e estava completamente apaixonada por essas áreas. Devorava revistas de decoração, passava horas no Pinterest e comecei a desenvolver os meus próprios produtos de decoração (na altura almofadas, tecidos e papéis de parede) que comecei a vender em algumas lojas.


Chegou uma altura em que achei que fazia sentido começar (de uma forma muito despretensiosa) um blog nesta área, não só para ir divulgando o meu trabalho e projetos, mas também para ir partilhando tudo aquilo que me inspirava pessoal e profissionalmente. Além de que me apercebi que nessa altura em Portugal já existiam vários blogs de moda e beleza, mas de decoração existiam muito poucos. Por isso, senti que também era uma boa altura para o fazer. A cerâmica veio no seguimento do blog e foi um complemento natural que se encaixou bem, pois vender produtos feitos por mim sempre foi um objetivo.

Porquê Homes in Colour?

O nome Homes in Colour surgiu porque na altura que criei o blog gostava muito de cor e padrões nos interiores e na decoração e foi uma consequência natural. Lembro-me de adorar o universo visual da Designers Guild com todos aqueles rosas, azuis e verdes, e nessa altura tanto o blog como a minha casa eram um reflexo desse gosto. Também o facto de ter trabalhado uns anos antes no atelier da Margo Selby (também ela com uma abordagem bastante rica a nível de cor nos interiores) influenciou-me bastante. Hoje não seria o nome que escolheria, mas agora é um pouco difícil de o alterar porque foi assim que ele foi sendo conhecido. A cerâmica acabou naturalmente por adotar o mesmo nome, mas vai sofrer uma pequena alteração em breve. As peças vão passar a ter apenas o meu nome, e o “Homes in Colour” vai ficar exclusivo do blog. É uma mudança pequena, mas importante.

A paixão pela cerâmica surge em que momento da sua vida?

A cerâmica já me acompanha desde os tempos de estudante, visto ter sido uma das minhas cadeiras nucleares na faculdade. E tem-se tornado aos poucos num pequeno caso de amor, como escrevi uma vez no blog. E como em todas as histórias de amor, é difícil explicar com precisão quando e como aconteceu. Foi acontecendo, aos poucos. (sendo que este amor também tem dias de ódio, principalmente quando tenho prazos de entrega e as peças partem-se ou saem com defeitos graves do forno..). Mas acima de tudo, a cerâmica é um projeto que se alinhou com aquilo que sinto ser um dos meus propósitos de vida: criar coisas bonitas. Porque acredito que a beleza e a arte são fundamentais para uma experiência de vida mais rica e verdadeira.

E neste momento representa a sua principal atividade profissional?

A cerâmica e o blog ocupam cerca de 80‰ do meu tempo e, sim, são a minha principal atividade profissional neste momento, que complemento com outros pequenos projetos.

O que diferencia o seu trabalho?

Acho que aos poucos tenho vindo a criar uma estética que se pode caracterizar por elegante, feminina, gráfica e minimalista. As minhas peças são acima de tudo um reflexo dos meus próprios gostos pessoais. A minha paleta de cores é bastante monocromática e gosto muito de explorar padrões mais gráficos nas peças, com que finalizo com pequenos apontamentos de ouro verdadeiro, abraçando o conceito de pequenas jóias para a casa. O ouro vem assim reforçar o carácter valioso e único que cada peça feita à mão tem.

Onde vai buscar inspiração?

Os interiores nórdicos são uma grande fonte de inspiração para mim e muitas vezes quando estou no Pinterest a ver imagens de casas bonitas dou por mim e pensar: “que peças de cerâmica ficariam bem aqui?” E esse é muitas vezes um ponto de partida para mim. Também o facto de ter trabalhado na área do design têxteis com padrões e texturas influenciou-me bastante e vou aí buscar várias ideias e referências. Gosto de pensar que os padrões que pinto são como pequenas roupas com que visto as minhas peças. E o ouro com que as finalizo (tal como uns brincos ou um colar) é o acessório indispensável que lhes dá o toque final.

Onde podemos encontrar as suas peças?

Para além de na minha loja online e de no meu atelier (mediante marcação), podem encontrar as minhas peças em algumas lojas como a Icon Shop, o LBP Museum Concept Store, a Objetos Misturados, a Luz Natural, a Suuuper Cocept Store (entre outras).

Qual a maior dificuldade ao lançar marca própria, em concreto, na área artística?

No meu caso em particular que tenho uma pequena marca e um micro-negócio é fazer tudo sozinha porque tudo dá muito trabalho e às vezes sinto-me exausta, e não há ainda orçamento para contratar alguém para dar algum tipo de apoio. Como se costuma dizer, temos que ser “one man show”. Desde fazer todas às peças à mão no atelier, trato de toda da parte do styling e das fotografias, da comunicação nas redes sociais, dos contactos com lojas e clientes, envios de peças, escrita no blog e ainda tenho que que ter algum tempo por dia para os outros pequenos projetos paralelos em que ainda estou envolvida. No ano passado cheguei várias vezes a trabalhar 10 a 12h seguidas por dia.

E é possível viver da arte da cerâmica em Portugal?

Infelizmente no nosso país ainda se aposta pouco na arte e na cultura e por isso quem envereda por esse caminho já sabe que à partida não vai ser fácil. O nosso mercado é pequeno e, infelizmente, as pessoas no geral, têm pouco poder de compra. Também sinto que embora as coisas estejam a mudar, ainda não se valoriza da mesma maneira que lá fora, as coisas que são feitas à mão. É um processo de mudança lento e gradual. Mas sim, eu acredito que hoje mais do que nunca é possível viver da cerâmica em Portugal, Vivemos numa época privilegiada em que através das redes sociais estamos ligados ao mundo inteiro e qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, pode ser um cliente. Por isso é mais fácil vender e arranjar clientes.

O que a deixaria (mais) realizada?

Que a marca continuasse a crescer e se internacionalizasse um pouco mais.

Próximos projetos?

Estou muito entusiasmada com um projeto que estou a desenvolver em parceria com uma marca portuguesa de velas vegetais que adoro, e também estou a começar a desenvolver uma parceria com uma marca de plantas. Quero muito também ter tempo para começar uma linha de brincos em porcelana, que gostava de lançar ainda este ano.

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