A ceramista espanhola que colaborou recentemente com a Pepe Jeans na criação de cinco peças exclusivas, comprou uma impressora 3D e está em casa a produzir viseiras para a comunidade, do pessoal de assistência nos lares aos trabalhadores do mercado local.
Estreou-se com a Pepe Jeans na coleção de ténis unissexo que contribuem para o combate à poluição atmosférica (a Nº.22) através da utilização – enquanto material de revestimento – de uma película transparente de dióxido de titânio, um composto foto-sensível que, quando em contacto com a radiação UV, tem a capacidade para decompor certos gases nocivos para o ambiente.
A ceramista espanhola Laura Maldonado é a nossa convidada de hoje, e responde-nos diretamente de Alicante.
DE QUE FORMA O NOVO CORONAVIRUS MUDOU A SUA VIDA?
A verdade é que minha vida mudou bastante. Estou muito ciente da gravidade da situação e não voltei ao estúdio desde que o estado de alarme foi declarado no meu país, mesmo tendo conseguido fazê-lo. Decidi não sair de casa tanto por mim como pelas outras pessoas, já que é a única maneira deste pesadelo terminar o mais depressa possível. Todos os projetos em andamento pararam, uma vez que a maioria estava relacionada com o mundo gastronómico e de catering, por isso estou a viver um momento em que as minhas capacidades de reinvenção, adaptação e criatividade são cruciais para sobreviver até que tudo volte ao normal, o que espero que seja em breve.
COMO É HOJE A SUA ROTINA DIÁRIA?
Decidi comprar uma impressora 3D. Já estava a pensar nisso há um tempo e percebi que era o momento certo. Durante vários dias, perguntava-me como poderia contribuir e ajudar nesta situação crítica, especialmente na Espanha. Instalei a impressora 3D na minha sala de estar e, durante o período de auto-isolamento, imprimo telas e viseiras protetoras para lares, hospitais, polícias e trabalhadores nos mercados que nos fornecem alimentos todos os dias, sem nenhum tipo de lucro. Todas estas pessoas cuidam de nós, por isso quero contribuir de alguma forma, para lhes agradecer por isso, protegendo-as e a nós mesmos, pois há uma escassez completa de equipamentos de proteção e o mercado não os fornece, não há stock. Além de colaborar na criação de telas e viseiras de proteção, estou a ajudar outras empresas e fabricantes a lidar com o material e a distribuição de todos os EPIs que eles produzem para doá-los. Design e criatividade podem ajudar a salvar vidas.
COMO SE ADAPTOU À NOVA SITUAÇÃO DE CONFINAMENTO?
Ao nível pessoal, estou a tentar cuidar do meu corpo e da minha mente também de forma criativa. Tento garantir o bem-estar dos meus pais, comprando on-line, prestando-lhes toda a atenção que eles exigem, porque agora eles são minha maior preocupação. Também tento aproveitar as coisas do dia a dia e ocupar a minha mente e o coração com uma atitude positiva e construtiva. O som do ventilador da impressora 3D em cima da mesa de café, trabalhando 24 horas por dia, lembra-me do entusiasmo e do desejo de continuar a ajudar e a lidar com este momento difícil, com coragem e força. Não podemos mudar a nossa realidade, mas podemos reagir. Vamos embora!
QUE CONSELHO DARIA AOS LEITORES DA URBANA NESTES TEMPOS DIFÍCEIS?
Não precisa de ter uma impressora 3D para ajudar na situação atual. Todos podemos contribuir, simplesmente parando para pensar um momento sobre nós mesmos, assim como um pouco sobre os outros e o bem-estar geral. Passamos a vida inteira a correr, sem tempo para observar ou ouvir, caminhando sem consciência, comendo sem provar a comida. Estamos imersos na era do individualismo, da independência e da liberdade, o que é realmente maravilhoso, mas eu sinto que precisamos uns dos outros e este é um bom momento para prová-lo. Abram os olhos, ouvidos e nariz para o mundo e percebam aquilo de que ele precisa. Com muito amor.