“A minha casa é um work in progress… (…) O que é defeito pode tornar-se qualidade, o que tem que ver com o mote que usei: reciclar!”
Texto: Marta Lucena / Fotografia: Maria Lucena
O dono desta casa, no centro de Lisboa, é informático de profissão mas adora renovar casas e criar soluções de arquitetura, usar materiais de demolições (que compra sempre que pode) e objetos encontrados para lhes dar uma vida nova. Nos últimos anos foram várias as casas antigas que tem vindo a recuperar com muito trabalho e imaginação. Esta, soube dela por acaso, enquanto conversava com uma senhora na rua que lhe disse que havia uns andares desocupados na rua de cima. Segundo o proprietário “as pessoas de idade do bairro são os melhores contactos quando se está comprador“. A casa foi em tempos uma vacaria, mais tarde um armazém, uma empresa metalomecânica e depois uma empresa têxtil.
As obras de melhoramentos feitas pelo atual dono da casa aproveitaram as já realizadas pelos antigos inquilinos, embora continue numa verdadeira odisseia de soluções dos espaços. Existe um fantástico espaço exterior, um jardim rodeado de um lado por um muro de pedra e que serve a maior parte do tempo, como acrescento da sala. A casa está quase sempre cheia de amigos e de amigos dos amigos “costumo dizer que é uma verdadeira salada de gente”. Um dos fortes atributos do jardim é o de permitir que o dono da casa se sinta no campo. A maior parte das árvores já existiam, outras foram plantadas – laranjas, tangerinas, peras, limões, nêsperas, goiabas, abacate, uvas, maracujás, tomate, couves e ervas aromáticas fazem parte desta “produção agrícola” que ajuda a tapar para os prédios do lado. À noite é particularmente cénico quando se acendem as luzes de Natal (tão usadas nos eternos Verões do sudoeste asiático) que ficam todo o ano na mesa de madeira comprida, tal como as lanternas penduradas nas árvores e espalhadas pelo chão.
Dentro de casa, apaixonou-se de imediato pelo enorme pé direito e pela luz. Depois de repensar todo o espaço, o proprietário valorizou materiais como o soalho português de tábua corrida, paredes brancas e uma pedra de xisto “ferrugento” que liga bem com as vigas de ferro que já lá estavam. “A minha casa é um work in progress… gosto que todos participem com opiniões porque não tenho ideias fixas e pode sempre surgir uma solução melhor. Gosto de ver o potencial das coisas, tanto em relação aos espaços como às peças que coloco. Não gosto de tudo massificado. O que é defeito pode tornar-se qualidade, o que tem que ver com o mote que usei: reciclar!”.
Não se considera decorador, apenas põe os objetos de improviso. A maior dificuldade foi pendurar quadros nas paredes “porque as enormes janelas são os melhores quadros que a casa pode ter”. Aproveitou coisas que tinha, umas que encontrou abandonadas, outras que vai comprando durante as longas viagens que faz quando de vez em quando larga tudo e parte à descoberta do mundo. Tem trazido objetos de mercados que já trazem uma história de vida agarrada. É a viajar que recupera do trabalho de gerir e acompanhar as renovações.
É um globe trotter feliz que gosta de voltar para este seu canto que lhe permite aproveitar o bom da cidade enquanto se sente no campo.
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