A companhia de teatro Jianliju, em Xangai, China, projeto do More Design Office (MDO), oferece uma experiência única, em que o público é parte integrante das performances e produções. O resumo das suas novas premissas exige uma abordagem arquitetónica cuidadosa das relações entre espaço, evento e movimento. Os arquitetos selecionados para assumir este projeto abordaram estas condições explorando, deliberada e exageradamente a forma, a iluminação e a circulação.
Projeto de arquitetura: More Design Office (MDO) / Data: 2017 / Fotografia: Dirk Weiblen
Via v2com
O atelier assumiu a expressão cinematográfica do ‘film noir’ e aplicou este dramatismo em toda a atmosfera interna de modo a criar uma sequência de espaços contrastantes que são lidos como uma montagem de capturas de imagens do rolo de um filme.
O teatro é acessível por uma rua secundária no centro de Xangai; a porta de entrada está escondida na parte de trás de um empório de móveis antigos. Os visitantes só chegam munidos de informações exatas, como hora, local e número. Da porta, uma escada desce, mergulha na escuridão e a partir de lá a circulação procura criar uma sensação de afastamento do mundo externo, um ato deliberado de desorientação iniciado por um corredor escuro e curvilíneo que enfatiza a iluminação discreta e conduz aos espaços internos.
As funções são organizadas num arranjo linear de espaços, onde o visitante é impedido de retroceder, como se seguisse uma figura desconhecida pela rua à noite.
A paleta é simples, monótona, mínima, com uma sugestão de textura através do tratamento do gesso para dar brilho e profundidade aos espaços.
Por seu turno, e como elemento contrastante, o lobby é iluminado e revestido com painéis acústicos nas paredes e bancos criando um ambiente fechado e macio – um momento de pausa antes do início da apresentação, e assim a sensação de drama é ainda mais intensa.
Quando chega a hora, cada participante da produção entra num pequeno espaço variável, realçado por um número misterioso projetado via uma abertura para o chão do corredor escuro. Neste espaço, que lembra um conjunto de filmes de Lynch, sobressaem as pesadas cortinas de veludo.
As personagens emergem de uma troca de roupa numa pequena ante-câmara onde as quatro paredes são assimétricas, um espaço inquietante onde o foco principal está no número exibido através de uma lupa dando instruções de palco para os atores participantes que aguardam a sua entrada em palco.
Depois de terminado o espetáculo, a sequência termina com um hall de espelhos, um aceno final para o filme e as tradições cinematográficas que envolvem o seu design. Dado que este espaço final é predominantemente usado para fotografias e selfies, a sua última nota é intencionalmente espirituosa, uma reflexão crítica sobre a relação ambígua entre ator e público.