Por a 7 Maio 2018

A companhia de teatro Jianliju, em Xangai, China, projeto do More Design Office (MDO), oferece uma experiência única, em que o público é parte integrante das performances e produções. O resumo das suas novas premissas exige uma abordagem arquitetónica cuidadosa das relações entre espaço, evento e movimento. Os arquitetos selecionados para assumir este projeto abordaram estas condições explorando, deliberada e exageradamente a forma, a iluminação e a circulação.

Projeto de arquitetura: More Design Office (MDO) / Data: 2017 / Fotografia: Dirk Weiblen
Via v2com

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O atelier assumiu a expressão cinematográfica do ‘film noir’ e aplicou este dramatismo em toda a atmosfera interna de modo a criar uma sequência de espaços contrastantes que são lidos como uma montagem de capturas de imagens do rolo de um filme.
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Com trabalhos desta natureza, a teoria arquitetónica de Tschumi, especialmente o projeto Screenplays de 1976, é uma constante e muitas das estratégias formais empregadas pelo atelier MDO fazem referência direta aos paralelos com a edição de imagens e a natureza tempo-espacial da arquitetura. Ferramentas como distorção, repetição e sobreposição, muitas vezes usadas pelos grandes diretores do cinema ‘noir’, foram aplicadas como um método para absorver o interior com toda a atmosfera de um melodrama de Hollywood dos anos 50.
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O teatro é acessível por uma rua secundária no centro de Xangai; a porta de entrada está escondida na parte de trás de um empório de móveis antigos. Os visitantes só chegam munidos de informações exatas, como hora, local e número. Da porta, uma escada desce, mergulha na escuridão e a partir de lá a circulação procura criar uma sensação de afastamento do mundo externo, um ato deliberado de desorientação iniciado por um corredor escuro e curvilíneo que enfatiza a iluminação discreta e conduz aos espaços internos.

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As funções são organizadas num arranjo linear de espaços, onde o visitante é impedido de retroceder, como se seguisse uma figura desconhecida pela rua à noite.
A paleta é simples, monótona, mínima, com uma sugestão de textura através do tratamento do gesso para dar brilho e profundidade aos espaços.
Por seu turno, e como elemento contrastante, o lobby é iluminado e revestido com painéis acústicos nas paredes e bancos criando um ambiente fechado e macio – um momento de pausa antes do início da apresentação, e assim a sensação de drama é ainda mais intensa.
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Quando chega a hora, cada participante da produção entra num pequeno espaço variável, realçado por um número misterioso projetado via uma abertura para o chão do corredor escuro. Neste espaço, que lembra um conjunto de filmes de Lynch, sobressaem as pesadas cortinas de veludo.
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As personagens emergem de uma troca de roupa numa pequena ante-câmara onde as quatro paredes são assimétricas, um espaço inquietante onde o foco principal está no número exibido através de uma lupa dando instruções de palco para os atores participantes que aguardam a sua entrada em palco.

Depois de terminado o espetáculo, a sequência termina com um hall de espelhos, um aceno final para o filme e as tradições cinematográficas que envolvem o seu design. Dado que este espaço final é predominantemente usado para fotografias e selfies, a sua última nota é intencionalmente espirituosa, uma reflexão crítica sobre a relação ambígua entre ator e público.

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