Por a 30 Abril 2000

João Urbano, Ana Veiga e Manuel Arez

O Atelier Conceitos de Arte é uma referência nas áreas da arquitetura e do design de interiores, sendo reconhecido pela criação de projetos emblemáticos destinados a uma ampla gama de espaços, que incluem desde hotéis e restaurantes até residências.
Fundado em 2004 por João Urbano, Manuel Arez e Pedro Espírito Santo, e posteriormente fortalecido com a integração de Ana Veiga, o atelier destaca-se pela sua equipe sólida e coesa, que combina uma diversidade de experiência e competências.
O trabalho desenvolvido pelo atelier é profundamente personalizado, adaptando-se às necessidades individuais de cada cliente e destacando-se pela valorização de cada detalhe e pormenor.
Para Ana Veiga, João Urbano e Manuel Arez, cada projeto é tratado como uma obra única, levando em consideração as especificidades de cada trabalho, o contexto em que o projeto está inserido e, sobretudo, o estilo de vida e a personalidade de cada cliente.
Conceitos de Arte
Crafting Timeless Spaces

Rua Brito Pais 8b, 1495-028 Miraflores | +351 214 194 854 | [email protected] | www.conceitosdearte.pt | Instagram | Facebook

Apartamento Avenida da Liberdade

Fotografia: José Manuel Ferrão

Projetado para um casal que mora entre várias cidades, inclusive Lisboa, este apartamento distribuído em dois níveis, é o reflexo do seu estilo de vida e foi pensado para dar as boas-vindas à família – filhos e netos – e aos amigos que visitam a capital portuguesa. Manuel Arez e João Urbano, do atelier Conceitos de Arte, abriram-nos a porta do duplex e fizeram as honras da casa. E que casa! Aquele sol de inverno, que nos saudou no dia desta reportagem, iluminou todos os espaços com suavidade, conforme foi rodando, filtrado pelas elegantes cortinas de linho, inundando de luz natural a sala comum, a cozinha e os quartos.

À entrada, a atmosfera cénica e as paredes com ‘boiserie’ espicaçam a nossa curiosidade. Este é, em boa verdade, o primeiro ambiente da casa; é assim um bocadinho como a receção da sala e foi tratado como tal. Do nosso lado esquerdo, desenvolve-se toda a zona de living, com uma mesa de refeições redonda ao fundo e ao canto, junto a duas janelas, e para cumprimentar os visitantes o atelier escolheu uma mesa altamente composta, estrategicamente colocada por debaixo da escada. Esta mesa funciona como um cenário: ali se combina uma profusão de peças ‘hand-picked’ com algumas garrafas para um ‘drink’ de boas-vindas ou de pré-jantar e, graças a este gesto, a presença da escada passa para segundo plano. As pinhas de varanda, parte da coleção da proprietária, os vidros, os arranjos florais, os livros de arte e design, o quadro na parede… tudo se conjuga para um palco de bom gosto e de notável sensibilidade.  

Mesmo à nossa frente, já entrados na sala, em plano aberto, destacam-se, ao fundo, a mesa de jantar clássica e as cadeiras Minotti. O olhar vai circulando, pausadamente. Porque aqui todo o cuidado foi pouco. Cada detalhe é muito. A fusão de peças e de estilos é assinalável. O móvel de televisão, os tapetes e os sofás, em cores densas, desenhados pelo atelier, o candeeiro da portuguesa DelightFULL, os bancos transformados em mesa, a arca de antiquário, as fotografias e a arte, de um modo geral, dialogam neste palco.

“Esta casa é como um cenário, podia ser uma loja, podia ser uma produção para uma revista… podia ser uma casa”, diz-nos Manuel Arez, visivelmente satisfeito com o resultado final. Há muito aqui com o cunho deste coletivo nacional, mas, fundamentalmente, há aqui muito fruto da relação consolidada com os seus clientes, com o facto desta dupla saber ler a sua forma de estar e os seus desejos. E de, a partir deste diálogo, ser possível construir projetos com este nível de rigor, harmonia e elegância.

A escada de acesso ao piso superior, onde se alojam a suíte do casal e um espaço de leitura-barra-escritório, tal como as ‘boiseries’, são elementos da casa em que o Conceitos de Arte interveio: “Mudámos a guarda da escada e instalámos, de igual modo, uma guarda de vidro em toda a parte do mezanino; também assinamos as ‘boiseries’, porque a casa estava completamente crua”.

O que vemos hoje é muito mais do aquilo que a casa tinha, prossegue. “Houve aqui um trabalho de obra, de arquitetura de interiores e de decoração de paredes que se estende às portas dos armários, que foram trocadas, e à iluminação, que foi feita do zero”.

Para as obras de arte, esta parceria com os clientes foi de enorme utilidade. “Houve um fio condutor, tivemos o privilégio de ter a companhia dos clientes no nosso périplo pelas galerias de arte”, revela-nos. “Apesar de termos carta verde, foi para nós importante este entendimento, até porque os proprietários têm uma cultura estética muito importante, são bons conhecedores e amantes de arte, como tal esta busca feita em conjunto saldou-se no resultado aqui expresso. E tal estende-se às fotografias de Evelyn Kahn”.  

Ainda no piso inferior, passamos à cozinha, minimalista e branca. Adoramos a porta de acesso pela sala, deslizante e com uma geometria sofisticada. Passando ao corredor, visitamos os quartos dos convidados. Em ambos os casos, a opção do atelier foi equipá-los com duas camas unidas por uma mesma cabeceira. “As possibilidades são várias, porque permitem hospedar duas pessoas que dormem na mesma cama, juntando os dois elementos para o efeito, ou separá-los e colocar a mesa de cabeceira entre ambos. O raciocínio foi a flexibilidade”, salienta.

Nas paredes, expõem-se alguns quadros adquiridos num conhecido alfarrabista da cidade. No outro quarto, Manuel destaca a aguarela – “que é da casa de praia da cliente, no Brasil” e aqui foi materializado o mesmo raciocínio, o de ter duas camas individuais sendo possível uni-las sempre que necessário. Nas casas de banho, amplas e despojadas, o corian e o mármore de Extremoz são os materiais eleitos e em ambas há um banco-maleiro, instalado por baixo da bancada, que atua como suporte para a bagagem dos convidados. Por seu turno, o lavabo social, preexistente, recebeu novos revestimentos e iluminação.

Antes de subirmos ao segundo nível, apontamos para a coleção de caixas e as escovas de prata. “A nossa cliente adora colecionar, por isso diria que este é um trabalho inacabado, o que até é interessante, porque há sempre um mote por detrás de cada coleção e porque isso nos mantém despertos para esta característica e conforme encontramos peças que julgamos serem do seu interesse, vamos adquirindo-as e as coleções vão crescendo… e viajando.”

Já no piso superior, acedemos, em primeiro lugar, ao espaço, antes despido de interesse, hoje destinado a momentos de leitura ou para ver televisão. “Esta zona acaba hoje por ser um lugar da casa onde os clientes começam o dia, atualizam a leitura de e-mails e só depois descem para o pequeno-almoço. Da mesma forma, recebe-os ao fim do dia para verem televisão antes de irem dormir”. Neste espaço, o sofá-cama, uma peça nem sempre fácil de obter em ‘bom e bonito’, e a sua mecânica, com desenho do Conceitos de Arte, foi pensado para uma casa cheia.

Transposta a porta da master suíte, Manuel assinala o móvel desenhado pelo atelier, uma peça de destaque, e de novo a ‘boiserie’. “Aqui debatemo-nos com alguns problemas, porque o que o teto tem de bonito e de dinâmico, revelou-se um enorme desafio, mas conseguimos tirar partido disso e transpor as dificuldades”. Neste quarto, quase tudo é assinado pelo atelier, da cabeceira da cama ao móvel-cómoda à entrada, incluindo a poltrona, esta última uma peça de coleção do Conceitos de Arte, reproduzida com alguma frequência. Lá fora, há ainda espaço para um pequeno terraço privado, por onde a luz entra, filtrada pelas cortinas que caem, sobre o grande tapete da Ferreira de Sá. So smart!

Casa na Comporta

Fotografia: José Manuel Ferrão

Casa para uma família cosmopolita, para quem o essencial é quanto baste. O projeto de arquitetura cumpre com todos os requisitos de quem procura uma relação próxima com a natureza.

Aos cerca de 360m2 de área interior somam-se mais de mil metros quadrados de área exterior, num diálogo que tem tanto de harmonioso como de descontraído, em boa medida derivado da forma como o desenho da casa aproveita e interpreta a paisagem em redor.A residência de férias pertence a uma família de hábitos e gostos cosmopolitas, mas amante da natureza e com uma visão prática da vida, daí a simplicidade geral, mas também a opção pelos materiais e acabamentos característicos e próprios da região.“O programa assenta numa casa tradicional, sem prejuízo dos padrões atuais de comodidade”, diz-nos João Urbano. “As orientações solares, bem como a próxima relação entre os espaços interiores e exteriores, serviram de mote para o desenvolvimento de uma habitação com vários volumes, típicos da Comporta”. A arquitetura de interiores revela-se, portanto, numa interpretação minimalista da arquitetura tradicional portuguesa, funcionando a luz exterior e a iluminação como as linhas condutoras da proposta. Ainda com base nesta premissa, os arquitetos, em conjunto com os proprietários, selecionaram para o pavimento da habitação unifamiliar, na sua totalidade, um microcimento na cor creme. Por seu turno, a generalidade das paredes exteriores e interiores receberam um reboco de aspeto caiado, afagado à costa da colher, e em madeira acabada com velatura branca. Os tetos apresentam vigamentos de madeira à vista com forro de madeira pintados com velatura branca. Nas casas de banho e na cozinha, destaque para alguns apontamentos de azulejos portugueses.

A salientar, ainda, como nos aponta João Urbano, a parede de madeira da sala, com os dois sofás de alvenaria, numa clara alusão às construções palafíticas locais, bem como a sala de estar e jantar, pela sua amplitude visual a nascente e pelo jogo de sombras e contrastes criados pelas pérgolas exteriores.

As peças de mobiliário e decorativas, numa seleção da autoria de Marta Mantero, têm por base esta paleta de materiais, e a própria localização da casa. Também aqui a comunicação entre arquitetura, envolvente e decoração se faz descontraidamente, sem disfunções ou desvios. As peças de madeira clara, ratãs, cerâmicas e têxteis, a par com algum mobiliário de família, de contornos mais clássicos, descrevem este diálogo sereno.

A generosidade da luz natural que invade toda a área social, nomeadamente a sala comum partilhada com a cozinha, é um dos predicados da habitação. Os grandes envidraçados, deslizantes, abrem ainda mais esta zona de convívio ao exterior, dali se alcançando a zona da piscina, ladeada pelo pavilhão onde se fazem refeições ao ar livre. Aqui, na mesa comunitária, os encontros prolongam-se fora de horas. E o pôr do sol brinda os convivas com nuances de laranjas e violetas.

Casa no Príncipe Real – Lisboa

Fotografia: José Manuel Ferrão

Adquirida em 2022, a casa, localizada na zona do Príncipe Real, em Lisboa, conta com projeto de interiores e de decoração da Conceitos de Arte, de Manuel Arez e João Urbano.

A casa, que se divide em três pisos, estando um deles alojado ao nível da garagem, abaixo do solo, integra-se num edifício pombalino que ao longo do tempo foi sendo alvo de várias renovações e modernizações. A intervenção do ateliê Conceitos de Arte concentrou-se, como tal, no ato de repor a identidade pombalina, cada vez mais distante, por via das obras mais recentes, efetuadas na década de 90. Houve, nesse sentido, que respeitar a distribuição da casa, tendo sido considerados os espaços existentes, já que se pretendeu preservar as paredes originais, assim como alguns tetos com motivos em estuque. Elegante e charmosa, a casa ilumina-se com os verdes do exterior, por meio dos dois terraços-jardins, um ao nível do piso da entrada e outro no último andar, que contribuem para um estilo de vida descontraído em plena cidade.

No piso zero, o da entrada, distribuem-se a suíte dos convidados, a sala de jantar, a cozinha e a copa, assim como a sala de televisão com acesso ao terraço ajardinado. Em cima, alojam-se a sala de estar, a copa de apoio e os quartos dos filhos. No último andar, há espaço para a master suite, o escritório e uma lavandaria.

Generosa nas áreas, esta casa de família serve o casal e os seus filhos, que ali usufruem de cada espaço, sem restrições de privacidade ou de área. Com um cariz intemporal, a decoração escolhida pela Conceitos de Arte não se ateve a uma paleta de cores específica, destinando, pelo contrário, a cada espaço as suas cores e padrões. Esta mistura de tonalidades e texturas é uma presença constante, visível em todas as divisões, sendo de salientar que o importante, foi, e é, devolver ao edifício a importância da origem, da sua história.

Por seu turno, foram selecionados três materiais-base para os revestimentos de chão e paredes em todas as assoalhadas. “Nos pavimentos, usamos a madeira, sendo que grande parte deste é original, e a pedra de lioz; nas casas de banho das suítes, utilizamos o mármore Carrara aplicados ao chão e paredes”. Ainda ao nível dos revestimentos, e prosseguindo esta linguagem elegante e eclética, o ateliê de Manuel Arez e João Urbano escolheu o painel de gesso feito pela escultora portuguesa Iva Viana para animar as paredes da entrada, o papel de seda pintado à mão da conceituada DeGournay aplicado nas paredes da casa de jantar e, da mesma marca, o papel com folha de ouro, igualmente pintado à mão, destinado para a casa-de-banho social.

“Todo o mobiliário foi ou comprado para o efeito ou mandado fazer à medida”, diz-nos Manuel Arez. “Trata-se de uma mistura de peças que já faziam parte da coleção da cliente, com outras adquiridas em antiquários e ainda outras desenhadas pelo nosso ateliê.” Ainda no que diz respeito ao mobiliário, todos os estofos, de tecido, foram substituídos, por forma a que a harmonia seja uma característica tão marcante quanto a arquitetura da casa.

“Existem alguns elementos mais contemporâneos de design que pontuam os espaços”, conta-nos Manuel Arez”, e estes reforçam a sua leitura de uma casa pombalina, da sua abordagem sempre elegante, a que este conceituado estúdio de arquitetura e de interiores já nos vem habituando.

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