Por a 28 Março 2023

O gabinete de arquitetura DC.AD – Duarte Caldas assina o projeto de reabilitação do bar-restaurante Vago que parte de um espaço térreo, semi-enterrado, no bairro de Santos, em Lisboa.

Projeto: DC. AC / Fotografia: Francisco Nogueira / segundo memória descritiva

A construção de implantação retangular é adjacente ao Palácio Almada-Carvalhais, Monumento Nacional, que remonta ao séc. XVI, sendo possível que esta estivesse, originalmente, integrada no Palácio como zona de serviço. A construção, típica da época, apresenta um espaço amplo, constituído por uma abóbada de berço de tijolo, suportada pelas paredes maciças em alvenaria de pedra emparelhada, contínua em toda a extensão do espaço.

O projeto assinado por Duarte Caldas, procura requalificar as suas características originais, tendo sido levado a cabo um trabalho minucioso de reabilitação destes elementos através da estabilização e solidificação das argamassas e paramentos.

Inspirado nos “listening bars” japoneses, o conceito do espaço passa pela criação de um ecossistema cultural que celebra a música e que permite, num ambiente acolhedor e eclético, apreciar um disco ou ouvir um concerto intimista. Com uma programação regular e cuidadosamente delineada, as noites no VAGO têm a curadoria dos proprietários, eles próprios DJs e audiófilos.

A entrada no espaço é feita através de um dos vãos de sacada confinantes com a rua principal, que permite a descida pela ante-câmara escura, marcada pelo brilho da parede em tijolo de vidro. A espessura de uma cortina medeia a relação com o espaço principal, que se desenvolve no sentido longitudinal, paralelo à fachada. A posição da ilha central do balcão de bar acentua esta espacialidade alongada que percorre todo o espaço. Para os clientes, foi criada uma estrutura de plataformas que se desenvolvem como uma progressão da linha da abóbada, criando uma espécie de anfiteatro que permite diversas formas de utilização. Estes níveis criam novas dinâmicas, não só na relação com o exterior, como também na perceção visual interior do espaço a partir de diferentes cotas.

Os lugares sentados são distribuídos ao longo de um único sofá de pele. O vão de sacada de maiores dimensões cria uma oportunidade para um momento de exceção, através do desenho de um banco embutido com relação privilegiada com o exterior. O pavimento em cimento afagado incorpora os elementos maciços, evidenciando, por contraste, a riqueza da textura da abóboda. As colunas de som, protagonistas do projeto, foram personalizadas e estrategicamente dispostas nos quatros cantos do espaço. Junto às paredes limítrofes, um corpo contínuo em madeira desdobra-se e incorpora este sistema de som, expõe as bebidas e esconde, simultaneamente, as infraestruturas e as áreas de arrumação. Este elemento é interrompido apenas pelos vãos da fachada tardoz que criam nichos de apoio à zona de DJ, ao bar e às instalações sanitárias.

As zonas técnicas e húmidas foram concentradas num único volume, descolado das paredes existentes e do teto, salvaguardando a estrutura abobadada, assim como as infraestruturas de ventilação e eletricidade que percorrem o comprimento do espaço.

A tonalidade dos tijolos da abóboda é replicada para a argamassa acobreada das paredes e para os estofos avermelhados dos sofás, resultando num ambiente íntegro, que potencia a experiência imersiva, sensorial e acústica do bar.

A madeira escura, a iluminação quente, os tijolos de vidro e os equipamentos de reprodução de som vintage resultam numa atmosfera analógica e reminescente da década de 60 e 70 do século XX, ainda que com um desenho único e actual.

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