Por a 30 Março 2021

É como uma pérola no interior de uma ostra. Um prédio remodelado com um precioso jardim no interior.

Fotografia: José Manuel Ferrão Produção: Amparo Santa Clara

Texto: Mafalda Galamas

Do lado de fora, a quem passa a passo apressado, nada faz antever a forma como se desenvolve este prédio recuperado. As linhas contemporâneas da arquitetura de interiores denunciam uma remodelação recente. E a paleta neutra na base deste apartamento funciona, agora, como uma tela em branco que deixa brilhar as artes complementares que aqui coabitam. Não tivesse o resultado final a mão da artista plástica Ana Calém, responsável pela decoração desta habitação.

Apesar de formada em gestão, e com diversos anos de experiência profissional em banca, a pintora e ceramista enveredou por um trilho mais artístico, após levar a cabo diversas especializações, nomeadamente em Pintura e no Curso Avançado de Artes Plásticas, ambos no Arco. Hoje também coordena projetos de reabilitação e neste imóvel, em concreto, assinou a decoração de interiores e o projeto de arquitetura paisagista do terraço e jardim.

As assoalhadas distribuídas por cerca de 200 metros quadrados, gozam da luminosidade incrível de Lisboa. Grande parte possibilitada pelas janelas rasgadas com ligação ao jardim privado. Este é, sem dúvida, o ex líbris da casa. Perante o qual se desenrolam as principais divisões sociais, nomeadamente a sala situada num piso cimeiro.

Alguns elementos da sala, ajudam a perceber a história de quem aqui vive, da carpete estendida no chão, ao aparador ripado de madeira, passando pela estante de livros que adorna a parede.

A sala foi ampliada pela pérgula de madeira,  executada à medida, no espaço exterior virado a Sul. Está coberta por acrílico de forma a proteger da chuva e permitir ser um espaço a usufruir em qualquer altura do ano. Além de garantir maior privacidade, tem um jogo de luz muito bem pensado que resulta particularmente quando a noite cai. Por aqui, as plantas são sobretudo roseiras e trepadeiras.

Contudo, desfrutar do jardim não é um privilégio permitido apenas a quem está na sala. É, aliás, da cozinha que se tira maior partido deste pequeno oásis dentro da cidade. A divisão que é, por tradição, tratada como se de um laboratório de trabalho, aqui foge à regra, tendo sido tratada com especial atenção.

Ana Calém sugeriu que se pintassem as paredes de cinzento suave, como forma de quebrar o excesso de branco que tornava o espaço algo frio.

Trabalhou, igualmente, a iluminação de uma forma pouco usual numa cozinha. O lustre acima da mesa de refeição é um exemplo claro disso mesmo.

Já do ponto de vista funcional, na ilha, o balcão de refeição foi transformado em armário com prateleiras para arrumação. O tapete de ráfia no qual assenta a mesa de refeições ajuda a aquecer o ambiente e a esquecer onde estamos. Destacamos, ainda, as divertidas figuras de revista pintadas, emolduradas e penduradas nas paredes. 

A mesa com pés em tronco de madeira e tampo de vidro também demonstram o gosto dos proprietários pelos materiais naturais. Destacamos a cesta com flores por cima da mesa pelo facto de conter pequenas flores em cerâmica, executadas com o maior detalhe. Nas paredes, parte das aguarelas da autoria de Ana Calém, representam paisagens da Irlanda. As outras, foram inspiradas em fotografias de Arpad Szenes Maria Helena Vieira da Silva. Porém, a magia acontece lá fora…

Ana Calém tentou trazer um pouco da Sintra de todos os portugueses, para este refúgio familiar. Cultivou espécies como: estrelícia gigante, magnólia de folha caduca, camélias, jasmins, e outras tantas plantas para dar cor, luz e aroma, como roseiras ou alfazemas. Ao fundo, na parede, e não menos importante cresce uma horta vertical, com as ervas aromáticas para vários gostos!

Só a zona privada da habitação não tira partido desta vista refrescante. Nos quartos, a brisa é antes proporcionada pelas ventoinhas. Os cortinados são de linho, o canguru da Zara Home e o banco de apoio executado em cerâmica .

Já no segundo quarto, a pintura a acrílico é uma obra da autoria de Teresa Caria.

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