Esculpida na paisagem de Paredes, junto ao rio Tâmega, a Casa da Levada parece emergir do terreno. Revestida em cortiça e desenhada para dialogar com a natureza envolvente, acompanha a topografia do terreno, garantindo uma transparência fluida entre interior e exterior. Tiago Tsou assinada o projeto e a reportagem fotográfica é de Ivo Tavares.
Projeto: Tiago Tsou / Fotografias: Ivo Tavares Studio / segundo memória descritiva
No coração rural de Paredes, com o rio Tâmega como cenário de fundo, ergue-se a Casa da Levada, um projeto que se dilui na paisagem como se dela fizesse parte desde sempre. Mais do que uma construção, esta casa é um exercício de integração — uma arquitetura que se deixa moldar pelo lugar, que se ancora na matéria da terra e devolve ao território uma leitura silenciosa, mas firme, do “natural construído”.






Aqui, a arquitetura não impõe, insinua-se. A volumetria segue a topografia e os gestos do terreno ditam a forma da casa, estabelecendo uma continuidade física e visual com o ambiente natural. O projeto nasce, assim, da vontade de respeitar — e amplificar — o que o sítio oferece.




O percurso até à entrada, pensado como um sulco empedrado sobre o verde, conduz o visitante através de uma espécie de falha tectónica que divide a habitação em dois volumes distintos: um dedicado aos espaços sociais, outro aos ambientes mais privados. Este gesto culmina num pátio central, elemento estruturante da organização espacial da casa. Em torno dele, desenvolve-se o programa, num abraço que configura um espaço exterior de convivência, onde as palas horizontais recortam a paisagem e moldam a luz.






O conforto térmico foi igualmente pensado com precisão e coerência com os valores do projeto. A climatização recorre a um sistema de piso radiante com bomba de calor, que aquece e refresca de forma eficiente, potenciado pelo pavimento cerâmico que acelera a resposta térmica. A renovação de ar é assegurada por um sistema de Ventilação Mecânica Controlada com permutador de calor, garantindo qualidade ambiental interior com perdas mínimas de energia. Os envidraçados foram estrategicamente orientados e protegidos por brisas solares e estores exteriores, para equilibrar os ganhos solares sazonais.



A sustentabilidade, longe de ser apenas um conceito, traduz-se em escolhas construtivas concretas e profundamente ligadas ao território. As paredes exteriores são revestidas com painéis de cortiça, material natural e reciclável, que oferece desempenho térmico e durabilidade. A cobertura ajardinada prolonga a continuidade do terreno, e o pátio central foi executado com pedra proveniente da antiga ruína no local — reaproveitada e reorganizada segundo uma nova estereotomia, onde cada fragmento carrega a memória do lugar.





A Casa da Levada é, assim, uma arquitetura de permanência e pertença. Uma obra que, mais do que ocupar o solo, o interpreta — devolvendo-lhe, em forma construída, a sua própria essência.