Por a 30 Junho 2025

Localizada na Estrela, a dois minutos de Santos, do rio Tejo e do PríncipeReal, a casa de Rita Rodrigues da Silva, fundadora e CEO do Lisbon Art Office,estabelece um diálogo sereno entre a arte contemporânea e a própria históriado lugar e do edifício, datado do início do século XX.

Fotografias: Gui Morelli / Produção: Amparo Santa-Clara / Texto: Isabel Pilar de Figueiredo

Soma 170m2  de área interior a que se juntam os cerca de 25m2 do pátio, um espaço ao ar livre no coração da cidade. O apartamento, dividido em três quartos e uma suíte, duas salas de estar, uma casa de jantar, escritório e cozinha, além dos espaços de banho e de serviço, é o refúgio contemporâneo com alma artística de Rita Rodrigues da Silva e dos seus três filhos, Carolina, João e Domingos, inseparáveis do José Banhas, um Shar Pei de olhar doce e temperamento especial.

“Esta casa é mais do que um espaço habitado — é uma extensão viva da minha personalidade”, diz-nos Rita: sofisticada, sensível à arte e profundamente ligada à estética contemporânea. Composta por peças de artistas do universo LAO (Lisbon Art Office) e de outros nomes — consagrados e emergentes — que cruzaram o seu caminho, e a inspiraram, a coleção “reflete escolhas afetivas, olhares cúmplices e gestos generosos, muitas vezes oferecidos em amizade”.

Clara, fresca e serena, aqui respira-se elegância sem rigidez. A paleta é contida, com apontamentos de cor que surgem como pinceladas intencionais. “É um espaço onde o clássico e o moderno dialogam com naturalidade, onde madeiras antigas convivem com peças desenhadas à medida e onde os tecidos, como o veludo de alta qualidade, acrescentam textura, conforto e sofisticação”. Nesta casa da jovem família, quem entra sente-se acolhido e surpreendido, e esta aparente dicotomia é, afinal, tão-só, o reflexo de uma curadoria pessoal “feita de intuição, conhecimento e sensibilidade”. Uma casa onde se vive com arte, literal e figurativamente. 

Peças de autores conhecidos — Gil Heitor Cortesão, Kiolo, Nicolas Lefeuvre, Daria Kukovinets, Diogo Muñoz, Miguel Neiva, Miguel Cabrita Matias, Martinho Pita, José Maria Dias da Cunha, D. Ponsonby, A. Rosado, H. Mourato, Catarina Borges de Castro, Bruno Tomaz Costa — e tantas outras, de artistas com quem Rita se cruzou nas muitas viagens feitas, nas visitas a antiquários e feiras de antiguidades, estabelecem um convívio sem duelos. Peças de design contemporêneo, como o são as da Flos, e outras de Murano, têm aqui lugar, ecoando a sua capacidade de reunir mundos — “o da arte e o da intimidade, o do olhar curatorial e o do afeto familiar. É uma casa onde nada é aleatório, mas nada é rígido. Onde cada obra tem uma história, uma memória, uma relação”, acrescenta.

Algumas peças foram descobertas, outras oferecidas, “mas foram todas escolhidas com um olhar sensível e atento ao que emociona, desafia ou simplesmente encanta.” É uma casa especial e com camadas — as do tempo, dos encontros, das ideias, e é nessa convivência, entre o clássico e o contemporâneo, entre o requinte e o quotidiano, que a sua verdadeira beleza acontece.

É também uma casa especial, porque é profundamente pessoal — não decorada, mas vivida: “A elegância não é ostentação, é natural. Os materiais não são apenas bonitos, são sentidos: a textura de um veludo, o calor de uma madeira antiga, o conforto pensado nas proporções de uma peça desenhada à medida…”.