The Editory Boulevard Aliados

Concluído em 2022 e com projeto de arquitetura e de interiores assinado pelo estúdio nacional Ding Dong, o Boulevard Aliados, da coleção The Editory, está localizado no coração da baixa do Porto.

Projeto: Ding Dong / Fotografia: Montse Garriga / Texto: Isabel Figueiredo

Com base na sua localização e na interseção de dois edifícios – um na Rua do Almada e outro na Avenida dos Aliados –, o projeto de arquitetura e design de interiores parte da ideia de que o hotel deve dar a impressão de que sempre ali esteve. A abordagem especial da Ding Dong imprimiu-lhe a aparência sofisticada e eclética, tão bem ajustada ao cenário urbano.

Esta premissa, que norteou todo o projeto de design – a de dar a ideia de que o hotel é uma preexistência naquele lugar -, tem em linha de conta aquilo que o edifício poderia ter sido no passado, embora não como uma colagem literal do mesmo. É, antes, uma versão reinterpretada do passado. Para tal, o coletivo Ding Dong usou materiais nobres e naturais, destacando o seu lado urbano e, para mantê-lo alinhado com a sua abordagem usual, foram colocadas peças históricas lado a lado com móveis feitos sob medida, enfatizando a atmosfera eclética, combinada com um ambiente sofisticado e urbano.

Diferentes texturas e muita luz (a que se soma o projeto de iluminação sob medida) adicionam profundidade e um caráter intimista a todo o projeto.

O hotel foi construído após a fusão de dois edifícios, um na Rua do Almada e outro na Avenida dos Aliados. Há uma distinção subtil entre os dois troços que se cruzam: o primeiro, mais vocacionado para os hóspedes com entrada principal para a Avenida dos Aliados, e um segundo mais vocacionado para deixar a cidade entrar, com o bar e o restaurante virados para a Rua do Almada. Os pisos de entrada (0 – Aliados e 1 – Almada) concentram a maior parte dos espaços comuns interiores e exteriores, enquanto que no piso -1 se encontram a sala de reuniões e um ginásio. As seções técnicas e as áreas de pessoal ocupam principalmente o restante deste andar. Em ambos os edifícios foram adicionados novos pisos para colmatar uma lacuna na área útil e no número de quartos – num total de 70, com áreas entre os 18 e os 28 m2.

De entre os vários espaços, destacamos o bar, onde a arte tem um papel fundamental, bem como os dois murais, da autoria da artista plástica portuense Sofia Torres – e o ponto de partida para a definição de todo o espaço –, complementados por elementos de madeira e tecido vermelho que os enquadram. O pavimento de ripas de madeira de carvalho com vidrado branco e ripas da mesma madeira com vidrado de madeira preta, dispostas em ângulo, acentuam o contrastante. O teto em forma de cúpula é forrado com papel de parede com um padrão linear de figuras humanas. A parede voltada para a entrada principal é forrada com carpete.

A ligação entre o bar e o restaurante é, também ela, uma solução inusitada, caracterizada pelo corredor forrado a carvalho e vermelho intenso, terminando esta via numa sala virada para um terraço e varanda sobre o restaurante. O elemento comum entre esta sala e o bar é a tapeçaria, desta vez cobrindo os pisos. O carvalho com lambris brancos vidrados e o papel de parede inspirado nos anos 70, paleta de cores complementada por uma cor viva, Neon Lobster, e verde oliva nalgumas marcenarias e no teto, acentuam o convite ao descanso e à conversa.

No teto, a claraboia com iluminação artificial e molduras de marcenaria conduzem o nosso olhar em direção ao céu. No restaurante, a perceção é a do conforto de uma casa apimentada com a excentricidade do universo circense.

Aqui, o piso exposto em ângulo, combinando duas cores contrastantes de madeira, os apontamentos de madeira pintada de vermelho em vários móveis, os lambris de travertino e as paredes acarpetadas com padrões de animais bem como a utilização de tecidos com padrões e cores quase revivalistas, conjuga-se com mesas serigrafadas com excertos do mural do bar. Dois importantes cartões de visita para o que o visitante irá descobrir a seguir, na hora de dormir…