Por a 27 Abril 2023

O arquiteto formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (Brasil) em 1998 e mestrado pela universidade de Lisboa em 2019, abriu-nos a porta do seu atelier em Lisboa para uma pequena conversa. No escritório, a janela rasgada deixa ver o rio Tejo e a luz entra sem rodeios, prenúncio de uma hora acolhedora. 

Fotografia: Fernando Guerra | FG+SG / Texto: Isabel Figueiredo

Instalado na quarta nave do antigo armazém H pertencente à Administração do Porto de Lisboa, localizado no Cais do Gás – Cais do Sodré, com uma área construída de 365m², o atelier do coletivo Sidney Quintela Architecture + Urban Planning – Lisboa é a porta de entrada em Portugal para um percurso de sucesso. Percurso que nasce no Brasil, onde o atelier de Sidney Quintela ainda hoje opera, e atravessa um oceano, para alargar a sua competência a países como Portugal ou Angola, entre outros. 

A escolha pelo espaço onde o atelier está alojado não poderia ter sido melhor. Toda aquela vista sobre o rio Tejo garante doses generosas de inspiração, para além da luz de Lisboa. Como não ceder aos seus encantos? Longe do calor tropical, Sidney Quintela encontrou o conforto de uma capital europeia, mesmo à beira-rio, num espaço amplo e luminoso, outrora em estado de quase abandono, hoje magnífico. “O edifício passou por uma requalificação profunda de modo a garantir o máximo conforto térmico e acústico, e criar todas as condições necessárias para o desempenho da atividade de um atelier de arquitetura, pensado para oferecer bem-estar aos colaboradores e clientes.

Conceptualmente, o projeto propõe a plena integração entre os espaços. Tal resulta na interação entre as pessoas, o que evidencia o propósito de todos os projetos desenvolvidos pelo atelier”.

É aqui que somos recebidos, e desde logo podemos constatar a missão deste coletivo de nivel internacional. “Tudo aqui parte da premissa de uma arquitetura contemporânea, com linhas retas, grandes vãos, integração plena entre o interior e o exterior, com o aproveitamento máximo possível da iluminação natural, para o bom desempenho das atividades laborais. Foram utilizados materiais naturais como a pedra mármore e uma paleta de cores neutras e sóbrias, de modo que as cores mais vivas ficassem para as obras de arte, mobiliário e para as pessoas que utilizam o espaço”.

O projeto luminotécnico foi pensado para proporcionar uma luz “mais dramática, utilizando luminárias com luz quente e mais focadas, resultando numa atmosfera composta por luz e sombra, gerando conforto visual e iluminando as zonas necessárias para a circulação das pessoas com segurança e valorizando as peças principais do projeto”. Por seu turno, nas áreas de trabalho e de maior utilização, a iluminação proposta é “mais homogénea e intensa”. Ao nível da acústica, foram utilizadas “nuvens acústicas que se inserem como um elemento de design na composição visual mantendo a amplitude do espaço.”

A fachada norte, que da acesso ao atelier, é composta por painéis de aço corten, que configuram a identidade visual do mesmo, integrados num jardim vertical para uma maior “gentileza urbana”. Na fachada sul, voltada para o Tejo, as salas abrem-se através de grandes superfícies envidraçadas para um diálogo constante com o rio, o Cristo Rei e a Ponte 25 de Abril.

9 Perguntas a Sidney Quintela

Desde quando existe o escritório no Brasil?

Foi fundado a 10 de setembro de 1999, em Salvador na Bahia, e em abril de 2006 inaugurámos uma unidade em Lisboa para atendimento aos clientes portugueses e espanhóis que faziam projetos no Brasil naquela altura.

Porquê a decisão de escolher Portugal para morar e trabalhar?

O facto de ter uma ligação afetiva com Portugal – e porque tanto eu como a minha mulher temos dupla nacionalidade por ascendência familiar –, potencializado pela constância em neste país devido ao desenvolvimento do escritório nos últimos anos, conduziu a esta mudança, observada como sendo positiva para a nossa família. Passar a viver em Portugal significou, ainda, uma nova realidade para as nossas filhas, e estamos muito felizes com esta escolha.

Que projetos estão atualmente em curso e onde?

Temo aproximadamente 150 projetos em curso, alguns no Brasil, alguns em Portugal, alguns em Moçambique e um na Costa Rica.

Onde estão os vossos principais clientes?

Os nossos principais clientes estão entre Brasil e Portugal.

Que tipo de arquitetura residencial aponta como sendo, hoje, uma tendência, e está refletida nas preferências dos seus clientes?

Acredito que a sustentabilidade é inerente aos projetos de arquitetura, de modo que não existe pensar arquitetura em 2022 sem levar em consideração tais questões. O fator diferenciador que mais se reflete na busca dos nossos clientes e, consequentemente, na satisfação dos mesmos, acaba por ser uma arquitetura que proporcione bem-estar, através de espaços dimensionados corretamente, aproveitamento máximo da luz natural, aproveitamento máximo da ventilação natural e cuidado especial com o isolamento e tratamento acústico, de modo que a arquitetura ofereça conforto, para além de uma relação forte entre o interior da edificação e as áreas externas.

Que projeto residencial gostaria de destacar pela singularidade, enquadramento paisagístico ou dimensão?

A Casa do Lago, por se tratar de uma casa com uma proposta diferente de arquitetura, inserida num terreno único no seio de uma reserva de Mata Atlântica. Trata-se de um projeto singular, com arquitetura contemporânea, com pé direito alto, que se abre para um lago natural e que abriga uma coleção de arte e antiguidades única, e este conjunto de elementos fazem deste projeto uma peça especial no nosso portfólio.

O que está para breve?

Em Portugal, teremos em breve cinco empreendimentos imobiliários, dois em Oeiras, um em Cascais, um em Lisboa, um na região da Comporta e a remodelação de um antigo hotel no algarve. No Brasil, para além de diversos projetos imobiliários, teremos o lançamento de dois complexos hoteleiros, um com a marca Fasano e outro com a marca Anantara, que prometem ancorar um grande destino turístico no litoral norte da Bahia.

O que vos falta fazer?

Falta-nos fazer um cemitério, por acreditar que podemos criar uma ambiente mais leve para os momentos mais tristes, de forma a aliviar a dor e o sofrimento dos familiares e amigos que estão a despedir-se de um ente querido.

Que distinções destacaria ao longo da sua carreira?

Vencemos um concurso internacional, para projetar a requalificação e desenvolvimento de 20 vilas rurais em Moçambique, de modo a desenvolver o interior daquele país, tendo como locomotiva principal a agricultura familiar. Tivemos também quatro projetos qualificados para a bienal latino-americana do Equador em 2018, para além de diversos prémios de arquitetura no Brasil, tanto residenciais como comerciais…

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