Por a 20 Outubro 2018

Um apartamento com uma linguagem arquitetónica tão forte, que deixa brilhar as outras formas de Arte. O projeto do atelier 7M Arquitectos é uma lufada de criatividade no coração da cidade.

Por Mafalda Galamas

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Aquele que já foi o último piso deste prédio secular, “nascido” em 1910, de traça ornamentada e cheia de cachet, é, hoje, habitação de uma família numerosa, que faz questão de sentir de perto o pulsar da cidade viva e, a todos, acessível. Durante a década de 70, do século XX, o edifício sofreu obras de reabilitação e ganhou em verticalidade ao serem acrescentados novos patamares. As características estruturais dos andares cimeiros são, no entanto, algo distintas das dos pisos iniciais.IMG_1255

O projeto do apartamento, que selecionámos para lhe mostrar nesta edição, tem assinatura do atelier 7M Arquitectos, que segue aos comandos de Mafalda Soares de Oliveira e Matilde da Silva Passos. Deste T3, com 160 m2, as arquitetas não têm dúvidas em afirmar que foi a linguagem arquitetónica da casa o que mais cativou os proprietários. IMG_1316

O pavimento e as portas em casquinha, os tetos com estuque trabalhado, o pé-direito com mais de três metros, as imensas janelas de sacada, que potenciam a entrada de luz do apartamento, são alguns desses exemplos.IMG_1304

Embora algo degradado no momento da aquisição, a proprietária percebeu de imediato a potencialidade da habitação e, juntamente com a dupla de arquitetas, começaram por redefinir um novo layout, isto é, distribuição das divisões. Privilegiando a zona social da casa à medida que se vai caminhando, deixando a área mais privada ao fundo.IMG_1295

Percebemos, desde o hall de entrada, a importância da pintura no seio desta família. Apesar de sermos recebidos pela arca do século XIX, os quadros de Diogo Muñoz e de Cruzeiro Seixas são o statement que fará a ponte para o resto da decoração, sobretudo, na sala, conjunta com a casa de jantar. Ambas usufruem da amplitude e luminosidade proporcionadas pelas diversas janelas com vista para uma das artérias mais movimentadas da capital.IMG_1327

A decoração do apartamento foi ganhando maturidade com o correr dos tempos. Tudo foi surgindo e acontecendo ao ritmo da vida do casal. No entanto, assumidamente atentos ao design, nada foi aqui mantido ao acaso. Todos os têxteis foram feitos por medida, dos sofás às almofadas. A ausência de cortinados é intencional, de forma a não ofuscar as características tão particulares das paredes e tetos do apartamento. IMG_1438

O cadeirão azul com braços originais foi recuperado e, os pretos, adquiridos na loja Mobler, em São Bento. Ao lado, o candeeiro, com design e cor de laranja icónicos, é o Nesso da Artemide.

Porém, o papel principal é desempenhado pelas obras espalhadas aqui e acolá. Destaque para os quadros de Hector Ramsey (o grande de tons preto e branco à esquerda do sofá), e o de João Cristóvão, com um azul vibrante e impactante. A escultura de madeira é do artista João Castro Silva e a metálica é de David Oliveira.IMG_1368

A papeleira D. Maria, em vinhático, é uma peça de família, e não é meramente decorativa… Cumpre as suas funções quando o trabalho exige continuidade a partir de casa, sempre sob o olhar atento do Santo António barroco. Ambos encostam ao pilar que é, agora, um nicho e que marca a separação com a sala de jantar. É nele que repousa, de forma discreta, a escultura de João Cutileiro.

Já na casa de jantar rendemo-nos às cadeiras de Marcel Breuer, ao candeeiro da Ligne Roset e carrinho de chá arte nova, dos anos 50. Nas paredes, continuam a brilhar obras de artistas renomados como João Cristóvão, Diogo Muñoz, Gil Maia, Raúl Perez, Cruzeiro Seixas, Malangatana ou Paula Rego. Algumas peças do apartamento foram adquiridas em leilões e galerias, outras herdadas ou trazidas de viagens do casal.IMG_1392

Atravessando o corredor, e uma vez na área mais privada da casa, conseguimos captar a serenidade do espaço. IMG_1394

O quarto de casal faz honras à cómoda D. Maria encostada ao espelho, que aproveita as tabelas originais da parede para fazerem de moldura. Uma forma de refletir a luz e de dar amplitude ao quarto. Por cima da cama os quadros têm autoria de Sofia Simões e os candeeiros de parede são os Tolomeo, da Artemide.IMG_1379

Com quatro filhos – duas raparigas pré-adolescentes e dois rapazes já adolescentes –, os quartos não poderiam deixar de ser, sobretudo, práticos e funcionais, onde parte do mobiliário foi desenhado pela 7M Arquitectos.IMG_1420

Todas as zonas húmidas da casa foram, igualmente, repensadas, acrescentando-se, assim, outra casa de banho e ampliando-se a cozinha àquilo que, em tempos, fora um… quarto interior. IMG_1427

Agora, reside aqui uma acolhedora copa com bancos rotativos, de estilo industrial, que pertenciam ao mobiliário de uma orquestra. E de um dos bancos fez-se a mesa com o tampo lacado a preto. O candeeiro de teto é o KTribe, da Flos. Na cozinha os acabamentos do pavimento e bancada são pedra mármore lioz, numa valorização plena do produto nacional, enquanto na copa preservou-se o soalho existente em madeira.

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